A carta a Manuel Linda foi entregue no final de uma manifestação à porta do Comando Metropolitano do Porto e que depois seguiu para a Sé Catedral.
No documento, os polícias começam por expressar o desejo de que a JMJ "cumpra os seus mais profundos desígnios", considerando, depois, que a organização "está a castigar os polícias" prejudicando-os a vários níveis, entre eles "o descanso".
Para ilustrar a sua preocupação, o presidente da Associação Socioprofissional da Polícia (ASPP), Paulo Santos, revelou à Lusa que o Porto, o segundo maior comando do país, "tem 600 polícias que na próxima semana estarão envolvidos na Jornada Mundial da Juventude", acontecimento onde são esperadas mais de um milhão de pessoas e que decorrerá em Lisboa de 1 a 6 de agosto.
"Estamos a falar de um comando metropolitano que já tem muitas insuficiências ao nível do efetivo policial, estamos com sobrecarga de trabalho, temos colegas a fazer horas de serviço, muitas delas em remunerado, para cumprir não só o seu conforto salarial, como também os problemas da própria instituição e com este desfalque para a JMJ estamos com muito receio de que a primeira semana de trabalho seja complicada e também de sobrecarga de trabalho", frisou.
Acresce a isto que "há uma fuga de quadros da PSP, agentes, chefes e oficiais, para outros projetos de trabalho porque não se identificam nem se sentem reconhecidos na instituição", situação que querem dar conta a turistas e peregrinos no protesto.
Neste contexto, Paulo Santos entende que "era importante que o ministro da Administração Interna, nos próximos dois anos, desse sinais de querer melhorar as condições salariais e retificar algumas das incongruências na instituição".
Voltando à situação do Porto, recordou que "saíram 300 agentes na última década", explicando-o com "a saída de profissionais para outras estruturas, o pouco investimento no quadro efetivo e a pouca mobilização de elementos que estavam em Lisboa para o Porto".
Na PSP há 25 anos, José Sousa disse à Lusa que não olha hoje para a profissão com os mesmos olhos de quando começou, explicando-o pela "falta de atratividade da carreira".
"As condições que existiam quando comecei foram sendo retiradas gradualmente, sendo que algumas teriam de ser assim. Já a questão salarial está a prejudicar o rejuvenescimento do corpo policial", argumentou.
José Sousa lembra-se das vezes que lhe perguntaram "como era ser polícia", mas que isso "deixou de acontecer" porque as pessoas "depressa perdem a vontade quando conhecem as atuais condições".
"Para além da questão salarial há também o problema das transferências, pois ser do norte e ter de estar 10 ou 12 anos em Lisboa ao preço a que está a habitação é incomportável", resumiu antes de os colegas rumarem à Sé Catedral do Porto para esvaziar a saca onde tinha cenas de panfletos com as reivindicações dos agentes.
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