Depois de, na noite de quinta-feira, ter deixado a certeza de que a guerra é uma preocupação "de todos", e perguntado "a quem faz jeito esta nova guerra, quem fica a ganhar com esta nova guerra, com este calendário, com esta coincidência?", hoje Américo Aguiar reforçou que, quando o conflito reacendeu, o que lhe "saltou imediatamente à vista foi o 'fait divers' para mudar os olhares, os corações e as preocupações" que têm sido vividas nos últimos tempos.
"Infelizmente, e volto a citar o Papa Francisco, nós temos uma terceira guerra mundial aos bocadinhos em muitas geografias. Eu, cidadão, eu bispo, eu cardeal, eu filho de Deus, qualquer coisa fez um clique que o calendário, a oportunidade, a circunstância não foi ocasional, alguma coisa motivou para que acontecesse neste contexto e nestas circunstâncias", acrescentou Américo Aguiar aos jornalistas, no final da missa internacional que encerrou a peregrinação de 12 e 13 de outubro ao Santuário de Fátima.
O futuro bispo de Setúbal, que assumiu não ter "grandes conhecimentos em geopolítica internacional", deixou o desejo de, "um dia destes, estar aqui [Fátima] para dar graças" pela paz.
No entanto, ao olhar para "este rebentar de uma guerra que não estava pensada, programada, não era expectável", pareceu-lhe, "de imediato, que fazia jeito a outros cenários".
"Distrações, apontar para outro lado para nos distrairmos, pareceu-me isso, mas quem sou eu para fazer análises de geopolítica internacional? Não sou absolutamente ninguém", afirmou.
Questionado pelos jornalistas se estava a referir-se à Rússia, o cardeal respondeu: "Nós não construímos nada contra ninguém e a paz não se constrói contra ninguém, porque, se vamos construir a paz contra o outro, estamos a fazer novamente a guerra".
O até agora bispo auxiliar de Lisboa lamentou a facilidade que há em "alinhar na globalização da indiferença".
"Já estamos mais ou menos indiferentes à Ucrânia. Já estamos mais ou menos indiferentes ao Sudão, à República Centro-Africana e a tantos outros conflitos, como diz o Papa Francisco, que são terceira guerra mundial aos pedaços", considerou.
Américo Aguiar afirmou que "parece que é uma série Netflix", em que se muda de canal e "está-se bem".
"Não se está bem. Não estamos bem e a esta hora há crianças, há jovens, há famílias a fugirem da Faixa de Gaza, atendendo ao anúncio que foi feito pelas autoridades para saírem", lembrou.
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