Admitindo que "a imagem do padre (...) sai ferida da realidade dos acontecimentos de abusos de poder, de consciência e sexuais que (...) escandalizam a todos", o secretário da CEVM, padre António Jorge Almeida, considera ser compreensível que "as pessoas que não estão tão próximas ou que estão fora das comunidades tendam a associar o afastamento de muitos jovens da questão vocacional" à questão dos abusos.
"No entanto, por parte de quem conhece e frequenta a experiência eclesial, sabe que as dificuldades que levam muitos jovens ao não comprometimento com esta forma de serviço são as mesmas que se reportam, por exemplo, ao matrimónio e a outras formas de vida consagrada e de serviço", afirma em declarações escritas à agência Lusa, a propósito da Semana de Oração pelos Seminários, que a Igreja Católica assinala entre 05 e 12 de novembro.
Para o padre António Jorge Almeida, "esta temporada de uma maior ou de uma mais realista tomada de consciência sobre a realidade dos abusos e o levar a sério a resolução dos mesmos, de forma canónica e civilmente justa, não destabilizou significativamente o gráfico de entradas nos seminários nos últimos tempos, tendo em conta o argumento utilizado atrás: menos respostas à vocação presbiteral, porém respostas mais autênticas".
Atualmente, serão "mais de 300" os jovens que "as dioceses, no seu todo, acompanham e formam desde a etapa do pré-seminário à etapa pastoral da formação próxima ao presbiterado, passando por etapas como o seminário menor, o ano propedêutico e o seminário maior", adianta o secretário da CEVM, acrescentando que, "uma vez que já não abundam os seminários menores, e os jovens deixam cada vez mais tardiamente a família, por causa da problemática geral ligada ao fim dos estudos e ao início do trabalho, as dioceses cada vez mais acompanham previamente no modelo de pré-seminário", com os jovens inseridos no meio familiar.
Subordinada ao tema "Não tenhas medo. Serás pescador de Homens", na Semana de Oração pelos Seminários "procura-se proporcionar, pelos párocos e responsáveis diocesanos da pastoral das vocações e pré-seminários, dinamismos de oração e de catequese/formação, através dos quais os adolescentes e jovens podem iniciar percursos de acompanhamento".
"Muitas vezes, e hoje mais frequentemente, é no tempo de estudos académicos na universidade que alguns jovens colocam mais seriamente a questão vocacional e a hipótese de ingressar num itinerário vocacional formativo mais sério", ao contrário do que acontecia há algumas décadas, em que "as motivações que levavam os rapazes para o seminário eram muito diversas, que iam desde o apego ao referencial da vida e da missão do pároco, até ao estudo e ao companheirismo daqueles tempos, ligados à aventura e aos jogos", explica o padre António Jorge Almeida.
Segundo o sacerdote, hoje "são menos seminaristas, mas a experiência é menos massificadora e proporciona um acompanhamento mais pessoal e um confronto mais frequente, numa vida comunitária de estilo mais familiar. Como já não abundam os seminários menores e o discernimento que antecede a admissão ao seminário é acompanhado nos contextos familiares, paroquiais, universitários, eclesiais como a JMJ, e outros, as respostas à vocação tendem a ser mais autênticas".
Na mensagem para a Semana de Oração pelos Seminários, o presidente da CEVM, o bispo auxiliar do Porto Vitorino Soares aponta para uma Igreja "onde há lugar para todos e que pretende ser um porto seguro para todos os que enfrentam as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida".
"Como com os primeiros discípulos, Jesus convida-nos a lançar de novo as redes para a pesca, apesar do cansaço, apesar da desilusão, apesar das redes vazias e sentirmos de novo a ilusão inicial, que deve ser revivida e reconquistada. Passar do derrotismo à fé, propõe o Papa Francisco", sublinha o prelado na sua mensagem.
Apontando ao futuro, o padre António Jorge Almeida quer ver o seminarista a ser, depois de ordenado, "um padre sinodal, capaz de conviver com outros ministérios, num estilo de serviço diferenciado e não de estilo competitivo".
"Terá de saber viver a comunhão, (...) que, como protagoniza o Sínodo dos Bispos que está a decorrer na Igreja, abre a porta para a participação e a missão", defende o secretário da CEVM, acrescentando que "isto implica que cada seminarista seja capaz de ser - como aliás todos os padres ao longo da sua entrega - alguém que cuida bem do seu itinerário de crescimento interior e de um bom relacionamento social".
A Semana de Oração pelos Seminários é assinalada em todas as dioceses com momentos de oração e atividades dirigidas aos jovens, no sentido do discernimento vocacional.
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