Questão dos abusos não afetou "significativamente" procura dos seminários

A questão dos abusos de menores no seio da Igreja Católica em Portugal "não contribuiu significativamente" para uma alteração na procura dos seminários, afetada mais por um menor número de vocações, reconhece a Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM).

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Lusa
02/11/2023 11:40 ‧ 02/11/2023 por Lusa

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Comissão Episcopal

Admitindo que "a imagem do padre (...) sai ferida da realidade dos acontecimentos de abusos de poder, de consciência e sexuais que (...) escandalizam a todos", o secretário da CEVM, padre António Jorge Almeida, considera ser compreensível que "as pessoas que não estão tão próximas ou que estão fora das comunidades tendam a associar o afastamento de muitos jovens da questão vocacional" à questão dos abusos.

"No entanto, por parte de quem conhece e frequenta a experiência eclesial, sabe que as dificuldades que levam muitos jovens ao não comprometimento com esta forma de serviço são as mesmas que se reportam, por exemplo, ao matrimónio e a outras formas de vida consagrada e de serviço", afirma em declarações escritas à agência Lusa, a propósito da Semana de Oração pelos Seminários, que a Igreja Católica assinala entre 05 e 12 de novembro.

Para o padre António Jorge Almeida, "esta temporada de uma maior ou de uma mais realista tomada de consciência sobre a realidade dos abusos e o levar a sério a resolução dos mesmos, de forma canónica e civilmente justa, não destabilizou significativamente o gráfico de entradas nos seminários nos últimos tempos, tendo em conta o argumento utilizado atrás: menos respostas à vocação presbiteral, porém respostas mais autênticas".

Atualmente, serão "mais de 300" os jovens que "as dioceses, no seu todo, acompanham e formam desde a etapa do pré-seminário à etapa pastoral da formação próxima ao presbiterado, passando por etapas como o seminário menor, o ano propedêutico e o seminário maior", adianta o secretário da CEVM, acrescentando que, "uma vez que já não abundam os seminários menores, e os jovens deixam cada vez mais tardiamente a família, por causa da problemática geral ligada ao fim dos estudos e ao início do trabalho, as dioceses cada vez mais acompanham previamente no modelo de pré-seminário", com os jovens inseridos no meio familiar.

Subordinada ao tema "Não tenhas medo. Serás pescador de Homens", na Semana de Oração pelos Seminários "procura-se proporcionar, pelos párocos e responsáveis diocesanos da pastoral das vocações e pré-seminários, dinamismos de oração e de catequese/formação, através dos quais os adolescentes e jovens podem iniciar percursos de acompanhamento".

"Muitas vezes, e hoje mais frequentemente, é no tempo de estudos académicos na universidade que alguns jovens colocam mais seriamente a questão vocacional e a hipótese de ingressar num itinerário vocacional formativo mais sério", ao contrário do que acontecia há algumas décadas, em que "as motivações que levavam os rapazes para o seminário eram muito diversas, que iam desde o apego ao referencial da vida e da missão do pároco, até ao estudo e ao companheirismo daqueles tempos, ligados à aventura e aos jogos", explica o padre António Jorge Almeida.

Segundo o sacerdote, hoje "são menos seminaristas, mas a experiência é menos massificadora e proporciona um acompanhamento mais pessoal e um confronto mais frequente, numa vida comunitária de estilo mais familiar. Como já não abundam os seminários menores e o discernimento que antecede a admissão ao seminário é acompanhado nos contextos familiares, paroquiais, universitários, eclesiais como a JMJ, e outros, as respostas à vocação tendem a ser mais autênticas".

Na mensagem para a Semana de Oração pelos Seminários, o presidente da CEVM, o bispo auxiliar do Porto Vitorino Soares aponta para uma Igreja "onde há lugar para todos e que pretende ser um porto seguro para todos os que enfrentam as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida".

"Como com os primeiros discípulos, Jesus convida-nos a lançar de novo as redes para a pesca, apesar do cansaço, apesar da desilusão, apesar das redes vazias e sentirmos de novo a ilusão inicial, que deve ser revivida e reconquistada. Passar do derrotismo à fé, propõe o Papa Francisco", sublinha o prelado na sua mensagem.

Apontando ao futuro, o padre António Jorge Almeida quer ver o seminarista a ser, depois de ordenado, "um padre sinodal, capaz de conviver com outros ministérios, num estilo de serviço diferenciado e não de estilo competitivo".

"Terá de saber viver a comunhão, (...) que, como protagoniza o Sínodo dos Bispos que está a decorrer na Igreja, abre a porta para a participação e a missão", defende o secretário da CEVM, acrescentando que "isto implica que cada seminarista seja capaz de ser - como aliás todos os padres ao longo da sua entrega - alguém que cuida bem do seu itinerário de crescimento interior e de um bom relacionamento social".

A Semana de Oração pelos Seminários é assinalada em todas as dioceses com momentos de oração e atividades dirigidas aos jovens, no sentido do discernimento vocacional.

Leia Também: Igreja debate comunicação no rescaldo da Jornada Mundial da Juventude

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