Na abertura da Assembleia Plenária do episcopado, em Fátima, José Ornelas sublinhou a situação das "famílias que acordam sem saber como alimentar os filhos ou pagar a renda" e daquelas que "nem sequer têm teto para descansar, os doentes que veem distantes os cuidados médicos essenciais, os adolescentes e jovens que, com frequência, não conseguem o necessário acompanhamento nos percursos escolares e os jovens formados que emigram para encontrar perspetivas de uma vida mais digna".
"Contrariamente ao tempo da pandemia, que deu lugar a uma atitude marcada pela busca de fraternidade, solidariedade e justiça, a crise (ou as crises atuais) mostra que, infelizmente, cresceu o fosso entre ricos e pobres: cresceu o isolamento de quem não pode fazer face ao custo dos serviços essenciais à saúde e à dignidade humana", lamentou o também bispo de Leiria-Fátima, acrescentando que "ficou na sombra quem é incapaz de recomeçar, de refazer vidas derrubadas pelo escalar das rendas de casa ou o aumento dos preços dos bens essenciais".
O bispo avisou, ainda, que "tudo isto fez crescer exponencialmente a conflitualidade social" e considerou que, "para agravar a situação, quando pairava uma expectativa vacilante de eventuais acordos, mesmo que limitados, em setores fundamentais como o da saúde, da educação e outros, a crise surgida nos últimos dias no seio do governo veio trazer novos e sérios elementos de incerteza e preocupação quanto ao futuro de todos, com a possibilidade de agravamento de muitas situações".
"Neste cenário, cresce a frustração e a revolta, especialmente entre os mais vulneráveis, como também a desilusão e a apatia desmobilizadora, campo fértil para manipulações e messianismos populistas que minam os fundamentos de uma autêntica democracia", afirmou José Ornelas, para quem "o panorama é difícil e exige bom senso e boa vontade de todos".
O presidente, acentuando que "já estão fixadas eleições para os próximos meses", fez questão de sublinhar que esta "é uma ocasião para discutir os verdadeiros problemas do país e afinar políticas de recuperação e melhoria, especialmente para os que mais estão a sofrer com estas sucessivas crises".
"Os protagonistas políticos têm um papel fundamental de apresentar propostas e soluções para que o povo possa ter vontade e oportunidade de fazer escolhas", disse o líder da Conferência Episcopal Portuguesa.
José Ornelas defendeu ainda que, "apesar deste panorama sério e complexo (...), neste momento é quando é mesmo necessário participar, seja na atividade direta e ativa na vida política, seja no elementar direito e dever de votar".
"Aos cristãos e a todos os cidadãos, digo claramente: quem acredita tem uma razão acrescida para não fazer parte da cultura da abstenção e da apatia. A participação, além de determinar quem vai ocupar os lugares de governo, serve-lhes também de estímulo e de aviso para o bom desempenho dos cargos para os quais serão eleitos", afirmou o presidente da CEP.
O bispo de Leiria-Fátima considerou, ainda, que o panorama atual "comporta muitos desafios, dificuldades, percursos tortuosos e dolorosos. Mas tem igualmente possibilidades e dispõe de meios que é necessário utilizar, com responsabilidade, honestidade e criatividade, para o desenvolvimento do país e para garantir a todos uma vida justa e digna".
Os bispos estão reunidos em Fátima até à próxima quinta-feira, com a análise da situação social a ser um dos temas em cima da mesa de trabalhos desta sessão da Assembleia Plenária da CEP.
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