O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reforçou, esta quinta-feira, desconhecer "quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde" no que diz respeito ao caso das gémeas com atrofia muscular espinhal que foram tratadas com Zolgensma, um medicamento que custa mais de dois milhões de euros, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, realizadas depois de a Casa Civil ter encaminhado o ofício para o gabinete do primeiro-ministro.
"Na sequência das notícias hoje surgidas, o Presidente da República reafirma que não teve conhecimento de quaisquer diligências junto do Ministério da Saúde no caso das gémeas luso-brasileiras, após o envio do dossier para o gabinete do primeiro-ministro a 31 de outubro de 2019", lê-se, num comunicado divulgado pela Presidência da República.
Em causa está uma notícia veiculada pela TVI/CNN Portugal que, esta quinta-feira, deu conta de que o ex-secretário de Estado da Saúde, António Larceda Sales, esteve reunido com o filho do Presidente, Nuno Rebelo de Sousa, no Ministério da Saúde, à data do brotar do processo.
Também esta quinta-feira, o antigo governante sublinhou que responderá ao caso "em sede própria", nomeadamente junto do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) e da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), tendo solicitado a documentação na posse deste último organismo "ontem".
"Quando digo não me lembro é porque, genuinamente, não me lembro mesmo. Passaram quarto anos, com uma pandemia pelo meio, onde, como sabem, tivemos um tempo extremamente difícil e, portanto, quando digo que não me lembro é porque, genuinamente, não me lembro mesmo. Preciso de factos e preciso de documentos para poder ter acesso e poder tentar relembrar. É só isso que posso fazer", disse, antes de se escusar a responder a mais perguntas.
Recorde-se que a SIC Notícias avançou, na quarta-feira, que a IGAS terá na sua posse um documento enviado por uma secretária de Lacerda Sales a solicitar a marcação de uma consulta para as gémeas no Hospital Santa Maria.
Também ontem, o primeiro-ministro, António Costa, reforçou que o seu gabinete fez "o que habitualmente faz" com o expediente recebido pela Casa Civil da Presidência da República, ou seja, reencaminhou-o "para os Ministérios competentes em razão da matéria".
O Presidente da República, por seu turno, reiterou não ter "nada a acrescentar" sobre o ofício, ainda que tenha ressalvado que, se disse que não falou com o filho, Nuno Rebelo de Sousa, é porque não o fez.
Na sua comunicação de segunda-feira, o chefe de Estado traçou a linha temporal da intervenção da Presidência no caso, depois de o programa da TVI Exclusivo ter dado conta de que as gémeas tinham sido tratadas em Portugal por influência de Marcelo Rebelo de Sousa, que terá recebido um alerta por parte do filho.
De notar ainda que, segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Notícias ao Minuto, "o processo encontra-se em investigação no Departamento Central de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa e, por ora, não corre contra pessoa determinada". O caso está também a ser averiguado pela IGAS, além de ser objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.
[Notícia atualizada às 22h38]
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