O antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho respondeu, esta quinta-feira, aos pedidos de comentários sobre a atualidade política, que não quer "intervir". O foco dos jornalistas estava na decisão do Tribunal da Relação de Lisboa sobre José Sócrates, no âmbito da Operação Marquês, e na polémica em torno do presidente do governo da Madeira, Miguel Albuquerque.
"Este não é o meu tempo. O Partido Social-Democrata (PSD) tem um líder, que é o Dr. Luís Montenegro, é ele que está a dirigir a estratégia do PSD. Ele é que tem de ser a voz autorizada que deverá conduzir o PSD nesta fase e eu, apesar de não ter feito um voto de silêncio e não deixar de ter as minhas opiniões, não posso esquecer que fui muitos anos presidente do PSD e fui primeiro-ministro alguns anos", começou por dizer aos jornalistas desde Lisboa.
Nas mesmas declarações, e perante a insistência sobre se faria, ou não, parte da campanha eleitoral dos sociais-democratas para as eleições de 10 de março, o antigo líder do PSD afirmou: "Não me irão ouvir falar de coisa nenhuma, porque não desejo intervir".
"O que quer que diga presta-se depois a muitas interpretações", reiterou ainda, até porque aquilo que possa dizer "tem uma leitura diferente do que diriam outras pessoas".
Passos Coelho ainda foi questionado sobre a polémica envolvendo a constituição como arguido do presidente do governo da Madeira, o social-democrata Miguel Albuquerque, mas o antigo primeiro-ministro reiterou que não iria "fazer declarações sobre nenhuma matéria de natureza política".
Insistindo neste ponto, e lembrando que Passos Coelho comentou amplamente todo o processo que levou à demissão de António Costa (que acusou ter-se demitido por "indecente e má figura"), os jornalistas voltaram a tentar um comentário: "Já disse que não vou fazer nenhum comentário".
"Quando se perde a memória, somos todos iguais"
O antigo primeiro-ministro Passos Coelho avisou hoje que "em política é fatal" quando se perde a memória e todos parecem iguais, e, questionado sobre atualidade, repetiu que este não é o seu tempo no PSD, mas de Luís Montenegro.
No lançamento do livro 'Lendas e Contos Populares Transmontanos - Tesouros da Memória (Vol. I: Bragança e Vinhais)', de Alexandre Parafita, que conheceu na infância em Vila Real, Passos Coelho nunca falou de partidos, mas deixou vários alertas sobre a realidade política atual.
"Quando se perde a memória, somos todos iguais e isso na política é uma coisa terrível - na economia também - porque se tudo é igual não há diferença. Não se apura nada, não há razão para a competição, para apurar mais eficiência, mais bem-estar", considerou.
E acrescentou: "Na política é fatal se formos todos iguais, tanto faz lá estarem uns como outros, é tudo igual".
"A memória, o passado é muito importante para nos definir e a maneira como o vemos ainda mais. É muito importante que cada um saiba interpretar esse passado e essa herança de maneira a renovar a sua identidade e comunicar com os outros", defendeu o antigo primeiro-ministro entre 2011 e 2015.
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