O bispo decidiu criar uma comissão "que vai refletir sobre o mapa", tendo como pressuposto um problema comum a muitas dioceses: "o mapa das paróquias é romano, medieval, milenar. E a realidade do terreno é outra".
Américo Aguiar aponta, desde logo, para "pelo menos três autoestradas que rompem a diocese" - A2, A12 e A33 -, "e, portanto, o território está esquartejado. Depois, o território tem centros urbanos que não tinha. A população tem hábitos e circulações de mobilidade que são novas, há novos centros de interesse, há novos centros urbanos", reconhece o prelado, para sublinhar a necessidade de adaptação à nova realidade.
"Não podemos continuar a insistir no mapa medieval, secular, para servir uma comunidade que já não corresponde a esse mapa", afirma o cardeal, assegurando que a comissão "vai estudar o novo mapa paroquial, o novo mapa de vigararias", de maneira a encontrar "uma estrutura diocesana, vicarial e de paróquias que possa corresponder melhor ao pouco clero e a cada vez mais pessoas".
A apresentação da proposta é apontada para 2025, Ano Santo e que coincide com os 50 anos da diocese, para que depois o documento "baixe à realidade, ao terreno, aos paroquianos (...), para se pronunciarem de modo sinodal" e, posteriormente, seja feita a experiência de funcionamento.
Se a reorganização da diocese é uma preocupação, outra não menos importante é a presença no meio do seu povo.
Nestes três meses, percorreu o território, encontrou-se com autarcas, empresários, responsáveis políticos e associativos, tentando responder também aos muitos convites que lhe chegam de todo o lado.
Ao fim de 15 dias em Setúbal, foi possível vê-lo numa vigília em defesa do Serviço Nacional de Saúde, uma forma, como admite, de mostrar, como escreveu na sua primeira saudação à diocese, que "agora é de Setúbal".
"Eu tenho dito que o Papa Francisco nos tem exortado, aos bispos e à comunidade cristã católica, que os pastores têm de andar à frente, têm de estar atrás e têm de estar no meio, com a comunidade. Há momentos diversos e há situações diversas, em que o nosso posicionamento tem de ser diverso também e sempre que este meu povo, católicos, cristãos, todos, todos, todos, precisar que o bispo amplie aquilo que são os seus gritos, as suas dificuldades, as suas festas, as suas alegrias, eu estou disponível", diz Américo Aguiar.
O bispo acrescenta que isso inclui "ir aos jogos do Vitória, para gritar golo, ir à manifestação do Serviço Nacional de Saúde, de qualquer coisa da educação, de qualquer coisa disto ou daquilo, desde que tenha consciência de estar a ampliar o grito mais do que justificado de homens e mulheres que, neste território, sonham e querem construir as suas vidas", pois "isso faz parte da identidade do pastor, que serve uma comunidade".
Para já, e apenas há três meses em Setúbal, já estabeleceu que a sua passagem pela diocese tem de significar, para as pessoas com quem se vai encontrando, que foi "alguém que se preocupou e que partilhou a sua vida com elas para ajudá-las a serem felizes e terem vidas um bocadinho melhores".
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