Cerca de 12% das jovens portuguesas entre os 18 e os 24 anos já faltou às aulas por não ter dinheiro para adquirir produtos menstruais. Esta figura aumenta para 23,5% no que diz respeito ao uso de produtos alternativos para colmatar a falta de acesso a produtos de higiene feminina, nomeadamente lenços, um segundo par de cuecas, algodão, roupa velha ou meias. Estas são duas das conclusões de um estudo promovido pela Evax e levado a cabo pela Spirituc – Investigação Aplicada, que pretendia avaliar o impacto da pobreza menstrual em contexto escolar, particularmente no que toca à assiduidade.
De acordo com a investigação, o fenómeno afeta sobretudo as jovens entre os 18 e os 24 anos que frequentam o ensino secundário, são residentes na região Centro e encontram-se inseridas em contextos familiares com baixos rendimentos. Destas, 12% admitiu já ter faltado às aulas por não ter possibilidade de comprar produtos de higiene feminina, situação que, para 3,2% das inquiridas, acontece recorrentemente.
‘Envergonhada’, ‘triste’, ‘mal’, ‘suja’, ‘vulnerável’, ‘nojenta’, ‘desconfortável’, ‘inútil’ e ‘diferente’ foram algumas das palavras utilizadas pelas jovens para descrever como se sentiam por faltar às aulas por estes motivos. De facto, cerca de 10% das inquiridas reconheceu já ter escondido não ter meios para comprar produtos de higiene feminina, e 13% admitiu já ter sofrido ‘fugas menstruais’ por não conseguir trocar o penso ou o tampão.
Mas, e ainda que mais de metade justifique as ausências com problemas de saúde, 22% dos professores confessou estar a par “de situações de raparigas que não podem comprar produtos de proteção menstrual” nas suas instituições de ensino.
“Mais de metade reconhece que estes casos acontecem com uma frequência elevada. Quase 10% dos professores inquiridos refere ter alunas que faltam às aulas ou têm de sair da sala de aula por não conseguirem adquirir produtos menstruais. Também 18,2% assumem que já tiveram pais que lhes confidenciaram que não podem comprar produtos menstruais para as suas filhas, e 34,5% indica já ter ajudado de alguma forma na aquisição de produtos menstruais para pessoas em risco de pobreza menstrual”, complementou o relatório.
Duas em cada 10 jovens inquiridas (17,2%) revelou ainda conhecer alguém que já faltou às aulas por não conseguir comprar produtos menstruais. Por seu turno, 25,5% indicou que amigas já lhes pediram produtos sanitários por não terem como os comprar.
As dificuldades têm ramificações nos pais, tendo 8,4% dos inquiridos reconhecido que já teve dificuldades para conseguir comprar produtos de proteção menstrual para as suas filhas. Além disso, 5,5% admitiu que em algum momento, as suas filhas terão ido para a escola sem produtos de proteção menstrual.
“Esta é uma realidade que assume maior expressão entre os pais mais jovens (25 a 34 anos) e residentes na região Sul. Questionados se alguma vez permitiram que as suas filhas ficassem em casa e faltassem à escola por não poderem comprar produtos menstruais, 5,5% do total da amostra de pais respondeu que sim. Apenas 19,6% dos pais, contra 80,4%, afirmaram alguma vez terem ajudado a adquirir produtos menstruais para pessoas em risco de pobreza menstrual, tendo sido as mulheres as que mais o fizeram no passado”, detalhou o estudo.
Quanto à população em geral, 23,6% lamentou conhecer quem já teve dificuldades económicas para conseguir comprar produtos menstruais. Dos 76,4% que indicaram não conhecer ninguém nesta situação, 13% assumiu já ter sentido dificuldades em comprar produtos menstruais, e quase 15% confessou ter abdicado de outros produtos para conseguir adquirir estes artigos de higiene.
Por seu turno, 8,5% das inquiridas já se viu obrigada a ir para o trabalho ou para a escola sem proteção menstrual, e 10,4% já teve de pedir produtos menstruais a outros por não conseguir comprá-los.
Finalmente, um quarto da população inquirida (24,5%) admitiu já ter ajudado, de alguma forma, na aquisição de produtos menstruais para pessoas em risco de pobreza menstrual.
O estudo contemplou a realização deum total de 1.054 questionários, havendo uma margem de erro máxima de 3,02% para um intervalo de confiança de 95%. A recolha de informação decorreu entre os dias 4 de dezembro de 2023 e 17 de janeiro de 2024.
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