Nutri-score? Nutricionistas e consumidores apoiam, mas não é consensual

Os rótulos de cores da Nutri-score adotados em Portugal como medida de promoção da alimentação saudável, são apoiados pela Ordem dos Nutricionistas e pela Deco Proteste, mas a eficácia da ferramenta não é consensual.

Notícia

© Getty Images

Lusa
04/04/2024 19:00 ‧ 04/04/2024 por Lusa

País

Alimentação

A Ordem dos Nutricionistas apoia a adoção do rótulo simplificado, tendo a bastonária, Alexandra Bento, defendido numa publicação há um ano no 'site' da instituição a necessidade de avançar com um processo de rotulagem simplificada, parado durante a pandemia da covid-19.

Alexandra Bento argumentou na altura com estudos que mostram que, independentemente do sistema utilizado, os consumidores "escolhem melhor" utilizando rotulagem de caráter interpretativo, defendendo os benefícios de os operadores usarem a mesma informação nos produtos, tornando-os comparáveis, e de pressionar a indústria alimentar a melhorias nutricionais.

Em 2018, a Assembleia da República recomendou que se avaliassem e implementassem "formas que sejam complementares da declaração nutricional" para facilitar a leitura dos rótulos, tendo um ano depois o Governo pedido à Direção-Geral da Saúde (DGS) um estudo, que veio concluir que, a existir um sistema, tinha de "ser claramente único".

A Deco Proteste também defendeu os benefícios do nutri-score, e lançou mesmo uma carta aberta que, segundo publicação no 'site' da organização, recolheu "mais de 2.500 inscritos" e foi enviada ao governo que cessou funções há dias, na qual apelou a que os rótulos dos alimentos incluíssem a classificação Nutri-Score, por ajudar os consumidores a "fazerem escolhas mais saudáveis no dia-a-dia".

Este apoio, no entanto, contraria as conclusões do estudo 'Alimentos classificados com Nutri-Score no mercado português: monitorização de características nutricionais em 2021', publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).

O INSA monitorizou 268 produtos com nutri-score (NS), recolhendo informações nutricionais juntamente com a classificação NS de diversas categorias de alimentos disponíveis no mercado português e comparando os respetivos teores de açúcares e de sal com os valores de referência da Estratégia Integrada para Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS), tendo por base a classificação NS atribuída.

"A grande maioria (91%) dos produtos alimentares avaliados não cumpre os valores de referência definidos na EIPAS para os açúcares e sal, quando avaliados conjuntamente. Esta realidade também se verifica se considerados apenas os produtos com Nutri-Score (NS) A ou B, teoricamente com uma qualidade nutricional superior e percebidos pelos consumidores como mais saudáveis, com 87% a excederem os referidos valores de referência", lê-se nas conclusões do estudo.

Estas preocupações estão também na base de uma moção do Comité de Ciência, Educação e Cultura do Conselho de Estados da Suíça aprovada em meados de março pelo parlamento (Conselho Nacional) da Suíça, por 102 votos, que defende que uma alimentação equilibrada é fundamental para a saúde e não uma visão isolada de um único produto, e que a pirâmide alimentar suíça é a ferramenta mais importante de informação ao consumidor, e não um rótulo comparativo.

Para os apoiantes da moção, o nutri-score é um instrumento demasiado simplificado, que não retrata o grau de processamento, aditivos, sustentabilidade, método de produção e origem de um produto.

O proponente da moção, Alois Huber, argumentou não fazer sentido que a Coca Cola Zero possa ser classificada como verde claro, com a letra B do rótulo nutri-score, quando o sumo de maçã de árvores de caule alto, devido à frutose que contém, é classificado com a letra C, um nível abaixo.

A adoção em Portugal do sistema de rotulagem nutricional simplificado 'Nutri-Score' como medida de saúde pública de promoção da alimentação saudável, e com adesão opcional dos operadores económicos, foi hoje publicada em Diário da República.

Leia Também: Portugal adota semáforo de alimentos como medida de saúde pública

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas