A Ordem dos Nutricionistas apoia a adoção do rótulo simplificado, tendo a bastonária, Alexandra Bento, defendido numa publicação há um ano no 'site' da instituição a necessidade de avançar com um processo de rotulagem simplificada, parado durante a pandemia da covid-19.
Alexandra Bento argumentou na altura com estudos que mostram que, independentemente do sistema utilizado, os consumidores "escolhem melhor" utilizando rotulagem de caráter interpretativo, defendendo os benefícios de os operadores usarem a mesma informação nos produtos, tornando-os comparáveis, e de pressionar a indústria alimentar a melhorias nutricionais.
Em 2018, a Assembleia da República recomendou que se avaliassem e implementassem "formas que sejam complementares da declaração nutricional" para facilitar a leitura dos rótulos, tendo um ano depois o Governo pedido à Direção-Geral da Saúde (DGS) um estudo, que veio concluir que, a existir um sistema, tinha de "ser claramente único".
A Deco Proteste também defendeu os benefícios do nutri-score, e lançou mesmo uma carta aberta que, segundo publicação no 'site' da organização, recolheu "mais de 2.500 inscritos" e foi enviada ao governo que cessou funções há dias, na qual apelou a que os rótulos dos alimentos incluíssem a classificação Nutri-Score, por ajudar os consumidores a "fazerem escolhas mais saudáveis no dia-a-dia".
Este apoio, no entanto, contraria as conclusões do estudo 'Alimentos classificados com Nutri-Score no mercado português: monitorização de características nutricionais em 2021', publicado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
O INSA monitorizou 268 produtos com nutri-score (NS), recolhendo informações nutricionais juntamente com a classificação NS de diversas categorias de alimentos disponíveis no mercado português e comparando os respetivos teores de açúcares e de sal com os valores de referência da Estratégia Integrada para Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS), tendo por base a classificação NS atribuída.
"A grande maioria (91%) dos produtos alimentares avaliados não cumpre os valores de referência definidos na EIPAS para os açúcares e sal, quando avaliados conjuntamente. Esta realidade também se verifica se considerados apenas os produtos com Nutri-Score (NS) A ou B, teoricamente com uma qualidade nutricional superior e percebidos pelos consumidores como mais saudáveis, com 87% a excederem os referidos valores de referência", lê-se nas conclusões do estudo.
Estas preocupações estão também na base de uma moção do Comité de Ciência, Educação e Cultura do Conselho de Estados da Suíça aprovada em meados de março pelo parlamento (Conselho Nacional) da Suíça, por 102 votos, que defende que uma alimentação equilibrada é fundamental para a saúde e não uma visão isolada de um único produto, e que a pirâmide alimentar suíça é a ferramenta mais importante de informação ao consumidor, e não um rótulo comparativo.
Para os apoiantes da moção, o nutri-score é um instrumento demasiado simplificado, que não retrata o grau de processamento, aditivos, sustentabilidade, método de produção e origem de um produto.
O proponente da moção, Alois Huber, argumentou não fazer sentido que a Coca Cola Zero possa ser classificada como verde claro, com a letra B do rótulo nutri-score, quando o sumo de maçã de árvores de caule alto, devido à frutose que contém, é classificado com a letra C, um nível abaixo.
A adoção em Portugal do sistema de rotulagem nutricional simplificado 'Nutri-Score' como medida de saúde pública de promoção da alimentação saudável, e com adesão opcional dos operadores económicos, foi hoje publicada em Diário da República.
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