O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escusou, este sábado, a comentar a proposta de cessar-fogo apresentada pelo homólogo russo, Vladimir Putin, que prometeu, na sexta-feira, ordenar "imediatamente" uma trégua na Ucrânia e iniciar negociações, se Kyiv retirasse as tropas das quatro regiões anexadas por Moscovo em 2022 e renunciasse aos planos de adesão à NATO.
“Não me vou pronunciar sobre isso. Seria fazer o contrário da minha presença aqui. Aqui o objetivo é trabalhar para a paz com paciência, naturalmente reafirmando pontos de princípio que são fundamentais na posição portuguesa, mas deixando correr o resto desta conferência”, considerou o chefe de Estado, em declarações à imprensa à margem da Cimeira para a Paz na Ucrânia, que decorre na Suíça.
O responsável salientou ainda que o evento deverá “abrir caminho para mais no futuro, onde naturalmente é muito importante a orientação portuguesa desde sempre e a orientação do atual Governo”.
Questionado quanto a uma eventual presença da Rússia num outro encontro, Marcelo lembrou que “todos têm noção de que era preciso haver um primeiro momento” que incluísse aliados de ambas as partes do conflito e que, desta feita, foi proporcionado pela Suíça.
“Vamos a meio do encontro e ainda não se apontou sequer para a etapa seguinte. Há várias propostas quanto à etapa seguinte; vamos esperar para ver qual é que vai ser adotada, no tempo adequado. Todos têm noção de que era preciso haver um primeiro momento e a Suíça, há que agradecer-lhe, proporcionou este primeiro momento”, disse.
O Presidente elencou também que, a seu ver, uma paz justa está não só “de acordo com princípios e valores da carta das Nações Unidas e do direito internacional”, como é também “duradoura”.
Recorde-se que, ontem, Putin disse que a sua proposta tem como objetivo uma "resolução final" do conflito na Ucrânia, em vez de "congelá-lo", tendo salientado que o Kremlin está "pronto para iniciar negociações sem demora".
O líder russo enumerou como exigências mais amplas para a paz o estatuto não nuclear da Ucrânia, restrições à sua força militar e a proteção dos interesses da população de língua russa no país. Todas estas exigências deveriam fazer parte de "acordos internacionais fundamentais" e todas as sanções ocidentais contra a Rússia deveriam ser levantadas, afirmou Putin.
Putin criticou, por isso, a iniciativa suíça, considerando-a uma "manobra para desviar a atenção de todos" dos verdadeiros responsáveis pelo conflito que, na sua opinião, são o Ocidente e as autoridades de Kyiv.
"A este respeito, gostaria de sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável connosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral", insistiu.
Os comentários de Putin representaram uma rara ocasião em que expôs claramente as suas condições para pôr fim à guerra na Ucrânia, mas não incluíram quaisquer novas exigências. É que, recorde-se, o Kremlin já disse anteriormente que Kyiv deve reconhecer as suas conquistas territoriais e desistir da sua candidatura à NATO.
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