"Era ouvido no hospital que eu estava lá a mando do Presidente da República, e eu passei a acreditar nisso", disse no parlamento.
Daniela Martins está a ser ouvida comissão parlamentar de inquérito ao caso do acesso das suas filhas ao medicamento Zolgensma, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Questionada por várias bancadas sobre esta questão, Daniela Martins disse não ter conhecimento "do que acontece no hospital"
"Eu não sei os bastidores. Se diziam que o Presidente interferiu, foi uma coisa que eu passei a acreditar", insistiu.
Sobre se não questionou o porquê desses comentários, a mãe das crianças justificou que se tratou de "comentários indiretos".
"Não tem muito o que eu questionar. O meu foco é o tratamento das meninas e não a forma como foi marcada a consulta [...] Não questionava essas coisas, para mim na altura eram irrelevantes", respondeu.
Daniela Martins indicou também que nunca tentou "fazer amizades no hospital, ter algum privilégio" e que "só queria que as consultas acontecessem".
Referiu também que desde que soube da existência do tratamento com o Zolgensma, a sua "intenção era essa medicação" porque era "inovadora, de toma única e era uma chance melhor, mais promissora", e que os seus esforços e contactos com as unidades de saúde foram nesse sentido.
A mãe das meninas tratadas em 2020 reiterou que não pediu ajuda diretamente ao filho do chefe de Estado, Nuno Rebelo de Sousa, e que não o conhece.
"Não, nunca afirmei que tinha assinaturas e não entrei na contradição. Nunca disse que conhecia pessoalmente Nuno Rebelo de Sousa em entrevista e aqui também", realçou.
Daniela Martins disse também que não lhe pediu ajuda para obter a nacionalidade das meninas, e que fez o processo diretamente no Consulado.
Ainda durante a primeira ronda de perguntas dos deputados, houve um incidente devido a um vídeo que o Chega pediu que fosse exibido. O vídeo, que o partido disse ter sido incluído numa reportagem da TVI, chegou a ser reproduzido durante alguns segundos e era possível ver a mãe e a cara das crianças.
Esta questão levou a críticas por parte de vários partidos ao Chega, que se opuseram à divulgação e pediram ao partido que citasse o que era dito. E também do advogado e da própria mãe, que ameaçaram requerer que a reunião comissão de inquérito continuasse à porta fechada caso as imagens fossem exibidas.
O líder do Chega, que estava a inquirir, chegou a insistir na divulgação do vídeo, mas tal acabou por não acontecer.
Já perto do final da primeira ronda, a comissão foi interrompida por alguns minutos na sequência de uma pergunta sobre o estado de saúde das meninas, e que fez com que a mãe se emocionasse e chorasse.
Quando retomou a reunião, o advogado da inquirida solicitou à comissão parlamentar de inquérito a mudança de designação por colocar em causa o nome da família.
"Solicito a esta casa [à Assembleia da República] estudar a possibilidade de alterar o nome da comissão parlamentar de inquérito sobre o caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma", salientou Wilson Bicalho, acrescentado que "é um impeditivo de a família voltar para casa".
O presidente da comissão, Rui Paulo Sousa, adiantou que "o assunto será visto pelos serviços e discutidos em reunião de mesa e coordenadores".
[Notícia atualizada às 20h02]
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