CPI? Deputados "extrapolaram o limite da civilidade", diz mãe das gémeas

A mãe das gémeas luso-brasileiras reiterou ainda que não sabe quem enviou um e-mail à nora de Marcelo Rebelo de Sousa e explicou que várias pessoas "têm acesso" ao seu e-mail pessoal.

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© Gerardo Santos / Global Imagens

Notícias ao Minuto
21/06/2024 22:58 ‧ 21/06/2024 por Notícias ao Minuto

País

Caso das gémeas

Daniela Martins, a mãe das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas com um medicamento milionário em Portugal, reiterou, esta sexta-feira, que não sabe quem enviou um e-mail à nora do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a agradecer a intervenção de António Lacerda Sales no tratamento das bebés. 

"Esses acontecimentos - trocas de e-mails, informações e pedidos - aconteceram logo após o diagnóstico das minhas filhas. Eu havia solicitado ajuda a várias pessoas e algumas pessoas tinham acesso ao meu e-mail pessoal para responder a qualquer pessoa que pudesse trazer alguma ajuda", disse a mãe em entrevista ao programa 'A Prova dos Factos', da RTP.

Questionada sobre o facto de o e-mail ter sido enviado em seu nome, Daniela Martins explicou que "disponibilizou todas as informações" sobre o estado de saúde das filhas e pediu "ajuda" às pessoas à sua volta, uma vez que, na altura, "estava intensivamente a cuidar das meninas e não conseguia responder e falar com todas as pessoas".

Daniela Martins reconheceu que "pode parecer estranho" que a própria não tenha "controlo" sobre o seu próprio e-mail, mas reiterou que tinha as duas filhas internadas em unidades de cuidados intensivos, sendo esta uma situação que "está fora do controlo de qualquer pessoa".

"Eu tinha de tomar conta das meninas, eu tinha de ter as informações de tratamento, eu tinha de encontrar caminhos para que elas tomassem o medicamento. Para mim, era uma situação totalmente fora do controlo. Foi dos momentos mais difíceis da minha vida", afirmou.

A mãe das gémeas afirmou ainda que tentou obter ajuda "por vários caminhos" e "Portugal era mais um deles", tendo "contactado médicos, hospitais e laboratórios". "Eu só queria encontrar um caminho legal e que as meninas tivessem acesso à medicação", atirou, acrescentando que falou com muitas pessoas que "não sabia quem eram". 

"Qualquer pessoa que precisasse de informações [sobre o estado de saúde das bebés], nós dávamos. Independentemente se fosse uma pessoa de cargo alto ou uma pessoa que aparentemente não tinha cargo nenhum. Era um pedido a todos", afirmou.

Alguns deputados "extrapolaram o limite da civilidade e da Humanidade"

A mãe das crianças afirmou ser inquirida na comissão parlamentar de inquérito não foi uma "situação confortável", mas tentou "ser o mais clara possível" nas respostas. 

"Achei também que algumas pessoas extrapolaram o limite da civilidade e da Humanidade". Acho que aconteceram coisas desnecessárias", atirou.

Sublinhe-se que Daniela Martins afirmou na comissão parlamentar de inquérito não se lembrar de ter enviado um e-mail à mulher do filho do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para agradecer ao ex-secretário de Estado António Lacerda Sales o acompanhamento que deu às suas filhas.

Daniela Martins reiterou também que não conhece o filho do Presidente da República, dizendo que só se encontrou a sua mulher, Juliana Vilela Drummond, no final de 2022, quando já se encontrava no Brasil, num evento público em São Paulo.

Recorde o caso

Em causa está o tratamento, em 2020, de duas gémeas residentes no Brasil, que adquiriram nacionalidade portuguesa, com o medicamento Zolgensma. Com um custo total de quatro milhões de euros (dois milhões de euros por pessoa), este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.

O caso foi divulgado pela TVI em novembro passado e está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tendo a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já concluído que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.

Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.

A 4 de dezembro do ano passado, na sequência de reportagens da TVI sobre este caso, o Presidente da República confirmou que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, o contactou por e-mail em 2019 sobre a situação das duas gémeas.

Nessa ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa deu conta de correspondência trocada na Presidência da República em resposta ao seu filho, enviada à Procuradoria-Geral da República, e defendeu que deu a esse caso "o despacho mais neutral", igual a tantos outros, encaminhando esse dossiê para o Governo.

[Notícia atualizada às 23h39]

Leia Também: Mãe das gémeas desconhece quem marcou consulta no Santa Maria

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