"A sociedade portuguesa, em geral, e o Governo, em particular, deviam olhar para estes 'rankings' e pensar em como dar às escolas públicas condições mais parecidas com o privado", defendeu Rodrigo Queiroz e Melo, em declarações à agência Lusa.
Em reação aos 'rankings' das melhores médias nos exames, divulgados hoje e que voltam a colocar os colégios privados no topo das escolas, o presidente da AEEP lembrou que os resultados, referentes ao ano passado, são apenas dos alunos que pretendiam prosseguir para o ensino superior, porque as provas não eram obrigatórias para concluir o secundário.
"Isso aproxima muito o tipo de alunos que estão a fazer os exames", argumentou, considerando que, dessa forma, as diferenças de contexto socioeconómico dos alunos do público e do privado, frequentemente apontadas para justificar os resultados de uns e de outros, são reduzidas.
Rodrigo Queiroz e Melo defende, por isso, que os ingredientes para o sucesso dos colégios estão, sobretudo, relacionados com as elevadas expectativas para os bons resultados dos alunos, por um lado, e com a estabilidade e envolvimento do corpo docente no projeto educativo da escola.
Não são ingredientes exclusivos do privado, acrescenta, considerando que seria possível "aproximar as escolas públicas dos colégios privados naquilo que têm de melhor".
Em concreto, defende que as escolas públicas possam contratar os docentes em função do projeto educativo, uma porta que o anterior ministro da Educação, João Costa, queria abrir, mas que continuou fechada perante a forte oposição dos sindicatos de professores.
Por outro lado, o representante do ensino particular gostava de ver perfis mais distintos nas escolas privadas.
"Acabar com o concurso nacional de recrutamento e deixar as escolas públicas recrutar, e criar sistemas de apoio para que mesmo os que têm dificuldades financeiras possam aceder ao privado seriam formas de melhorar significativamente os resultados académicos como um todo", resume.
As escolas privadas continuam a liderar as tabelas que têm por base a média nos exames nacionais, mas a distância entre colégios e escolas públicas voltou a diminuir este ano.
São também cada vez menos os alunos que chumbam, um problema que continua a ser mais sentido entre os jovens de famílias mais desfavorecidas.
Apesar de os dados disponibilizados pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação já permitirem analisar o percurso dos alunos ao longo dos anos, assim como comparar resultados de estudantes de meios socioeconómicos semelhantes, existem ainda muitos fatores por considerar, como a falta de professores nas escolas ou a possibilidade de os alunos terem ou não explicações.
Leia Também: Governo vai rever provas nos 1.º e 2.º ciclos para melhorar diagnóstico