Omissão, pedidos e (até) Temido. As explicações do chefe da Casa Civil

Fernando Frutuoso de Melo, chefe da Casa Civil do Presidente da República, foi ouvido em Comissão Parlamentar de Inquérito. Perante os deputados, garantiu que "não houve qualquer tratamento de favor da parte da Presidência da República".

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© Gerardo Santos/Global Imagens

Notícias ao Minuto
23/07/2024 19:32 ‧ 23/07/2024 por Notícias ao Minuto

País

Caso das gémeas

Mais de sete meses após o 'estalar' da polémica, Fernando Frutuoso de Melo, chefe da Casa Civil do Presidente da República, foi ouvido, esta terça-feira, em Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o seu envolvimento no alegado favorecimento no caso das gémeas luso-brasileiras tratadas com um medicamento milionário no Hospital Santa Maria, em Lisboa.

 

Perante os deputados, o responsável garantiu que não fez qualquer pedido de consulta para as crianças e explicou que decidiu "deliberadamente omitir" que a solicitação à Casa Civil havia sido feita pelo filho do Presidente da República, Nuno Rebelo de Sousa, para evitar "pressão".

"Para evitar a habitual interpretação errónea, em particular qualquer tratamento diferenciado dado o parentesco do peticionário com o Presidente da República, decidi deliberadamente omitir a identificação de quem tinha feito chegar tal solicitação por e-mail à Presidência da República", começou por explicar Frutuoso de Melo.

"Não dei conhecimento ao Governo, nem ao chefe de gabinete do primeiro-ministro, nem a nenhuma outra entidade, de quem tinha transmitido tal solicitação à Presidência da República, de modo a evitar que tal pudesse ser considerado, por algum interlocutor, como qualquer forma indireta de pressão ou tratamento de favor", acrescentou.

O responsável garantiu ainda "não houve nenhum contacto entre o Presidente da República e o Santa Maria" e que "não houve qualquer tratamento de favor da parte da Presidência da República".

Frutuoso de Melo omitiu origem do pedido das gémeas para

Frutuoso de Melo omitiu origem do pedido das gémeas para "evitar pressão"

Chefe da Casa Civil justifica omissão como forma de "evitar pressão".

Marta Amorim | 14:39 - 23/07/2024

Durante a audição, Fernando Frutuoso de Melo traçou uma linha dos acontecimentos e lembrou que o filho do Presidente da República enviou um e-mail a Marcelo Rebelo de Sousa em 21 de outubro de 2019 "sobre a situação das crianças" e perguntava como era possível ajudar para que as gémeas "pudessem ter acesso ao medicamento [Zolgensma] em Portugal".

Este e-mail foi depois encaminhado pelo chefe de Estado para a Casa Civil, questionando se a assessora Maria João Ruela poder "perceber do que se trata". A mensagem seguiu depois para a consultora, que pediu "mais detalhes a Nuno Rebelo de Sousa", nomeadamente "se as crianças estavam em Portugal".

O chefe da Casa Civil descreveu depois a troca de correspondência dos dias seguintes e indicou que, no dia 31 de outubro de 2019, o assunto foi remetido ao chefe de gabinete do então primeiro-ministro "de acordo com o procedimento acordado entre a Presidência da República e o Governo para a transmissão centralizada de correspondência", garantindo tratar-se do "procedimento padrão".

Nuno Rebelo de Sousa e os pais das meninas foram então informados do encaminhamento do caso e de que "a decisão sobre o tratamento era exclusivamente médica, que cabia ao hospital dar resposta quando achasse adequado e que o assunto tinha sido transmitido ao Governo". "Assim terminou a intervenção da Casa Civil", garantiu.

Envolvimento de Marta Temido? "Nunca falei com a ministra da Saúde"

O chefe da Casa Civil do Presidente da República, Fernando Frutuoso de Melo, afirmou ainda que nunca falou com a ex-ministra da Saúde Marta Temido sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, dizendo que não havia lista de espera.

"Nunca falei com a ministra da Saúde [Marta Temido] sobre o caso. O caso foi tratado como qualquer outro caso. A questão da lista de espera foi um erro de perceção da minha parte e tratámos o caso como muitos outros", referiu Frutuoso de Melo, em resposta ao líder do Chega.

Questionado por André Ventura sobre a indicação, num e-mail, de haver possibilidade de haver lista de espera no atendimento das crianças em Portugal, o chefe da Casa Civil do Presidente da República disse que se enganou. "Enganei-me. Não havia lista de espera. Deduzi", salientou.

Caso gémeas. Chefe da Casa Civil diz que nunca falou com Marta Temido

Caso gémeas. Chefe da Casa Civil diz que nunca falou com Marta Temido

O chefe da Casa Civil do Presidente da República, Fernando Frutuoso de Melo, afirmou hoje que nunca falou com a ex-ministra da Saúde Marta Temido sobre o caso das gémeas luso-brasileiras, dizendo que não havia lista de espera.

Lusa | 17:59 - 23/07/2024

Frutuoso de Melo garantiu que "todos os documentos disponíveis" foram enviados ao Parlamento

Sobre a documentação e comunicações do caso que o Parlamento pediu, o chefe da Casa Civil reiterou que "não há na Presidência da República quaisquer outros registos de mensagens para além dos transmitidos".

Na sua intervenção inicial, Frutuoso de Melo disse que a 7 de junho recebeu um ofício da comissão de inquérito solicitando todas as comunicações, incluindo cartas, mensagens, e-mails ou registo de telefonemas, sobre o caso das gémeas e que dias depois foram enviados ao Parlamento "todos os documentos disponíveis e que já tinham sido enviados à Procuradoria-Geral da República em dezembro".

Explicou ainda que não enviou a documentação solicitada pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) porque já sido remetida ao Ministério Público e o processo estava em segredo de justiça.

O que está em causa?

Na base da polémica está o tratamento, em 2020, de duas gémeas residentes no Brasil, que adquiriram nacionalidade portuguesa, com o medicamento Zolgensma. Com um custo total de quatro milhões de euros (dois milhões de euros por pessoa), este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.

O caso foi divulgado pela TVI em novembro passado e está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), tendo a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já concluído que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.

Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.

A 4 de dezembro do ano passado, na sequência de reportagens da TVI sobre este caso, o Presidente da República confirmou que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, o contactou por e-mail em 2019 sobre a situação das duas gémeas.

Nessa ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa deu conta de correspondência trocada na Presidência da República em resposta ao seu filho, enviada à Procuradoria-Geral da República, e defendeu que deu a esse caso "o despacho mais neutral", igual a tantos outros, encaminhando esse dossiê para o Governo.

Leia Também: Frutuoso de Melo omitiu origem do pedido das gémeas para "evitar pressão"

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