Mais tubarões nos Açores? "Efeito redes sociais. Dados apontam declínio"

Biólogo da OKEANOS realça que mais encontros não quer dizer o necessariamente aumento do número de tubarões, pode justificar-se "com o aumento das 'populações' de humanos nos seus habitats".

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© Facebook / Pedro Pinto

Natacha Nunes Costa
07/08/2024 08:35 ‧ 07/08/2024 por Natacha Nunes Costa

País

Tubarões

Durante o mês de julho foram vários os relatos de avistamentos de diversas espécies de tubarões junto à costa de diferentes ilhas dos Açores. No entanto, o que à partida pode parecer um aumento repentino deste tipo de animais na região, pode estar relacionado com outros fatores que não um crescimento da população de tubarões no arquipélago.

 

Ao Notícias ao Minuto, o biólogo do Instituto de Investigação em Ciências do Mar OKEANOS, Jorge Fontes explicou que "não existem objetivamente dados que possam suportar essa perceção", revelando, inclusive, que "o mês de Julho foi possivelmente o mais difícil para a indústria do shark diving do Faial e Pico (epicentro do mergulho com tubarões nos Açores)".

"Tem havido grande dificuldade em atrair tubarões para realizar mergulhos e a taxa de sucesso tem sido inferior à média de anos anteriores", afiançou.

Não há por isso evidências que haja um aumento da abundância de tubarões, no geral. "Pelo contrário, todos os dados disponíveis apontam para o declínio acentuado das populações da maioria das espécies de tubarões do mundo e em particular dos mais comuns nos Açores, como o tubarão-azul, o tubarão-mako (localmente conhecido como rinquim) ou tubarão-martelo. Muitas das espécies que ocorrem nos Açores estão ameaçadas de acordo com a UICN [União Internacional para a Conservação da Natureza]", lembrou Jorge Fontes.

Avistamentos são "ampliados pelo efeito das redes sociais"

Para o investigador, "é natural que um ou outro avistamento, ampliado pelo efeito das redes sociais, possa gerar uma perceção desproporcional se for republicada frequentemente. Por exemplo, na sequência do avistamento de uma tubarão branco a 45 milhas náuticas [cerca de 83 km] do Faial, foram reportados rumores de vários avistamentos junto à ilha, sem nenhum tipo de confirmação".

Além disso, lembrou Jorge Fontes, "uma das características mais significativa dos sistemas naturais é precisamente a variabilidade".

Temperatura da água do mar e aumento do turismo

Notícias ao Minuto Tubarão-martelo filmado ao largo da ilha das Flores© Frederico Fournier

"É possível que algumas subpopulações possam responder de forma distinta, tornando-se eventualmente mais visíveis e acessíveis em determinados locais ou momentos, com as temperaturas anormalmente elevadas, como é o caso do tubarão-baleia ou dos juvenis de tubarão-martelo juvenis que residem nas zonas de maternidade existentes em várias ilhas dos Açores", firmou, adiantando que, por exemplo, este ano, houve "avistamentos de tubarão-baleia quase dois meses mais cedo que o habitual".

"Possivelmente relacionado com o aquecimento prematuro das águas. Há ainda que considerar que, com o aumento das atividades de turismo de natureza e de aventura, os humanos passam cada vez mais tempo em zonas onde, naturalmente, ocorrem várias espécies de predadores e outra fauna (tartarugas, peixe-lua, caravelas portuguesas, etc.), gerando dessa forma mais encontros, que não estão necessariamente relacionados com o aumento dessas populações mas com o aumento das 'populações' de humanos nos seus habitats", notou o especialista.

Tubarões são os verdadeiros ameaçados

Nos Açores existem várias dezenas de espécies de tubarões, a maioria são de profundidade, incluindo o maior de todos, o tubarão-albafar, que chega aos cinco metros, e alguns dos mais pequenos, como por exemplo o tubarão-anão, que nem chega aos 30 centímetros de comprimento. Porém, "não há registo de ataques a humanos na região".

Aliás, como recordou Jorge Fontes em entrevista ao Notícias ao Minuto, os ameaçados, na verdade, são os tubarões, "devido à sobrepesca", apesar da sua captura estar proibida na Europa (incluindo nos Açores).

Tubarão-branco de 8 metros capturado ao largo de São Miguel

"Tanto quanto se sabe não há registos de incidentes graves com tubarões nos Açores, mesmo considerando que milhares de pessoas mergulharam com tubarões, sobretudo azul e rinquim, ao longo do últimos 15 anos na região. Os tubarões mais abundantes nos Açores não estão na lista de espécies de tubarão consideradas perigosas para humanos. Existem, no entanto, registos históricos de tubarões-brancos nos Açores - protagonista da série de filmes 'O Tubarão' -, incluindo uma captura em 1978, na ilha de são Miguel, até recentemente considerado um dos maiores espécimes alguma vez capturados, com quase oito metros de cumprimento, possivelmente exagerado segundo uma avaliação de registos semelhantes à escala global, recentemente publicada", lembrou ainda.

Para Jorge Fontes não existe, portanto, "qualquer razão para que quem utiliza o mar dos Açores tenha alguma precaução especial" com estes encontros.

"As pessoas devem continuar a utilizar as zonas que habitualmente utilizam e que não tem historial de presença de tubarões. Podem é evitar zonas de agregação de tubarões já conhecidas, como é o caso das maternidades, para não impactar os tubarões que são, normalmente, muito tímidos", sustentou, acrescentando que, em caso de encontro, é essencial "manter a calma e o contacto visual e sair calmamente da água se não se sentir confortável".

Já no caso de uma interação com alimento na água, como é o caso da caça submarina, deve-se "usar sempre o peixe na boia e não interferir caso o peixe seja atacado".

Se houver avistamentos recentes confirmados, pode sempre evitar nadar nas horas de lusco-fusco ou afastar-se da costa sozinho.

Recorde-se que, na semana passada, um grupo de mergulhadores teve um encontro com um tubarão-branco, no Banco Princesa Alice, ao largo da ilha do Faial. Já na ilha das Flores há vários relatos (e imagens) de tubarões-martelo e Mako avistados também nos últimos dias.

Leia Também: Tubarão-branco visto ao largo da ilha do Faial. Momento raro foi filmado

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