"Nas unidades hospitalares, de Abrantes, Tomar e Torres Novas, a greve ronda os 90%, uma forte adesão que revela a insatisfação dos profissionais e repercute-se ao nível dos blocos operatórios", com "cancelamento e adiamento de todas as cirurgias programadas", mantendo-se os "serviços nas cirurgias urgentes", disse à Lusa Sérgio Silva, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).
Contactada pela Lusa, a administração da ULS Médio Tejo, com sede em Torres Novas (Santarém) apontou que a adesão à greve, convocada pelo SEP, "foi, em média, de cerca de 85%, no primeiro turno da manhã, tendo levado à suspensão de cirurgias programadas".
"As consultas externas médicas não foram afetadas" e "os serviços mínimos estão integralmente a ser garantidos", ainda de acordo com a administração da ULS Médio Tejo.
A paralisação está marcada para os períodos da manhã e tarde de hoje, para os três hospitais e para os cuidados de saúde primários da área da abrangência da ULS Médio Tejo, precisou Sérgio Silva.
Segundo o sindicalista, após a divulgação do pré-aviso de greve, a administração hospitalar reuniu com o SEP, na quarta-feira, mas "sem resultados suficientes" para anular o protesto.
"Nesta reunião voltámos a colocar problemas que, reafirmamos, as administrações das ULS têm autonomia para decidir e resolver, designadamente, o pagamento dos retroativos desde 2018", declarou.
Ainda de acordo com Sérgio Silva, "dos vários problemas, a administração apenas se comprometeu a atribuir mais um dia de férias, por cada 10 anos de serviço, aos enfermeiros com CIT [Contrato Individual de Trabalho]".
Considerando ser "inadmissível que, ao final de vários anos, a administração continue a precisar de mais tempo para analisar possíveis soluções" às reivindicações, o sindicalista indicou, como exemplo, o "pagamento do regime de prevenção, cuja lei existe desde 1979, e que a ULS não está a cumprir".
Sérgio Silva disse que os enfermeiros reivindicam ainda a "contratação de mais profissionais" e uma "organização dos horários que permita a conciliação profissional com a vida familiar".
Questionado pela Lusa, o conselho de administração da ULS Médio Tejo, presidido por Casimiro Ramos, assegurou "estar empenhado em dar resposta às pretensões dos profissionais de saúde da instituição que estejam dentro do escopo da sua autonomia e competência".
Na reunião com o SEP, na quarta-feira, indicou, "foram analisadas as reivindicações" apresentadas no pré-aviso de greve, "concluindo-se que a maioria desses pontos são referente a matérias de âmbito nacional, fora do escopo da administração, e apenas três pontos se restringem à ULS Médio Tejo".
Nesse sentido, continuou, "o primeiro ponto das reivindicações encontra-se ultrapassado através da autonomia que a administração tem nesta matéria e após a necessária sustentação jurídica, tendo o conselho de administração da ULS já deliberado a atribuição de um dia de férias adicional por cada dez anos de serviço efetivo aos enfermeiros vinculados em regime de CIT, com efeitos a 01 de janeiro de 2025".
Já no que diz respeito ao pagamento do regime de prevenção, o conselho de administração indicou que vai "solicitar um pedido de parecer a entidade externa, comprometendo-se em tomar uma posição clara até ao final do presente ano".
Por último, e "no que concerne à atribuição de pontos", o conselho de administração adiantou que "também foi deliberado a realização de um parecer a entidade externa, que será disponibilizado até ao final do ano".
A ULS Médio Tejo passou a agregar em 01 de janeiro o Centro Hospitalar do Médio Tejo e o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo, assegurando a prestação dos cuidados de saúde nos concelhos de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Mação, Sardoal, Tomar, Torres Novas, Vila Nova da Barquinha (todos do distrito de Santarém) e Vila de Rei (distrito de Castelo Branco).
Com população residente na área geográfica de abrangência de cerca 170 mil pessoas, a ULS tem 2.780 profissionais e dispõe de três unidades hospitalares (localizadas em Abrantes, Tomar e Torres Novas) e dos serviços de cuidados de saúde primários até aqui assegurados pelo ACES Médio Tejo e pelo Centro de Saúde de Vila de Rei.
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