O programador e crítico Augusto M. Seabra morreu na madrugada de hoje, em Lisboa, aos 69 anos, vítima de várias complicações prolongadas de saúde, disse à agência Lusa fonte próxima da família.
O chefe de Estado recordou, numa nota publicada no 'site' da Presidência, a atividade de Augusto M. Seabra enquanto jornalista e crítico de música e cinema, e também programador, consultor, produtor ou jurado, que "acompanhou com zelo, conhecimento, cosmopolitismo e opiniões fortes" as artes e com "grande intensidade, as políticas culturais".
"Um dos últimos representantes de um tempo em que a crítica era determinante no espaço público, o seu vasto espólio foi devidamente encaminhado em vida para instituições relevantes, enquanto a sua obra escrita, ou seja, o seu trabalho e a sua memória, esperam ainda uma seleção e edição condignas", apelou Marcelo Rebelo de Sousa na nota de pesar.
O Presidente da República recordou ainda a "longuíssima amizade, cumplicidade e apoio" que lhe testemunhou, "mesmo nas situações mais polémicas ou controversas, e, também, os encontros nos anos finais marcados por uma penosa doença", prestando, na mensagem, "uma homenagem à sua presença marcante nas artes, espetáculos e ideias em Portugal no último meio século".
Nascido a 09 de agosto de 1955, Augusto Manuel Seabra, formado em Sociologia, dedicou-se à crítica de música a partir de 1977 e também no cinema, tendo desenvolvido atividade em vários periódicos, nos quais foi colunista, além de se dedicar à programação.
Foi produtor executivo do Departamento de Programas Musicais da RTP e colaborador na conceção de espetáculos de teatro musical.
Crítico de artes com intervenção em várias outras áreas, Augusto M. Seabra "deixou marca indelével no espaço da crítica das artes em Portugal ao longo do último meio século, em particular da música e no cinema", segundo uma nota biográfica inscrita no 'site' da Cinemateca Portuguesa, entidade onde foi colaborador e à qual deixou a componente de cinema do seu espólio pessoal.
M. Seabra escreveu com regularidade desde o final dos anos 1970 para jornais como A Luta e o semanário Expresso, tendo ainda participado como júri de vários festivais internacionais de cinema, nomeadamente de Cannes e de San Sebastian, de Turim, Salónica e Taipé.
Foi programador do festival DocLisboa e consultor do Script Fund, do antigo programa Media da União Europeia.
Com José Nascimento, Augusto M. Seabra assinou o documentário "Manoel de Oliveira: 50 Anos de Carreira", abordagem pioneira do trabalho do cineasta, datada de 1981.
No exercício da crítica, em anos recentes, Augusto M. Seabra chegou a ser processado em tribunal e absolvido em 2007, por ter chamado "energúmeno" a Rui Rio, então presidente da câmara do Porto, devido a uma polémica em torno da Casa da Música.
Em 2016, o então ministro da Cultura João Soares prometeu-lhe "salutares bofetadas" - a Augusto M. Seabra e também a Vasco Pulido Valente - por artigos de opinião com críticas à linha de ação política da cultura. João Soares apresentaria a demissão do cargo dias depois da polémica.
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