"Enfim, esperemos e admitimos que de uma forma construtiva, mas talvez não muito adequada, houve algumas leituras de limitação de acesso. É exatamente o contrário", disse o ministro António Leitão Amaro na conferência de imprensa do Conselho de Ministros.
Em causa estão as críticas do ex-ministro da Saúde socialista Manuel Pizarro, em artigo de opinião na quarta-feira publicado no jornal Público, no qual apela ao Governo que reverta a decisão de excluir da vacinação das farmácias as pessoas com 85 anos ou mais, que considerou "um erro" e uma discriminação que põe em causa a saúde pública.
Leitão Amaro sublinhou que há uma "decisão fundamental, nova, de expansão de acesso" tomada pelo Governo para a campanha de vacinação deste ano, que permite aos maiores de 85 anos receberem uma vacina para a gripe de dosagem dupla, que segundo a avaliação técnica feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS), aplicada numa "população mais vulnerável é mais passível de riscos de reação imediata, nomeadamente reação anafilática".
"O que significa que é altamente recomendado, pelo menos na fase inicial desta campanha de vacinação, quando esta dupla dose seja ministrada a esta população com mais de 85 anos, que ela seja feita em local e por profissionais com um nível de segurança clínica mais elevado. Logo, entende a DGS que deveria ser ministrado por enfermeiros, desde logo e em primeira linha nos centros de saúde", disse Leitão Amaro.
O governante sublinhou que a decisão é extensível aos lares, onde os idosos serão vacinados por enfermeiros sem necessidade de sair do local onde residem.
"Portanto, olhar para isto e entender, ou querer fazer sugerir que os mais velhos ficam pior, creio que não é exatamente assim", disse o ministro, que sublinhou que a decisão "é uma solução que melhora a proteção dos mais velhos".
"À medida que for evoluindo esta campanha e formos avaliando as reações e a forma como está a ocorrer, pode ser ponderado o alargamento. Nós temos a maior confiança na rede de farmácias (...). Como isto é uma novidade que amplia a proteção, decidimos fazê-lo desta forma deste ano, e obviamente seguindo o conselho técnico da DGS", acrescentou ainda.
Entretanto, a DGS esclareceu na quarta-feira que a exclusão da vacinação das farmácias a pessoas com 85 anos ou mais deve-se a "questões de logística" face à disponibilidade de vacinas contra a gripe de dose elevada e número de postos.
Em resposta enviada à Lusa, a entidade lembrou que para a campanha de vacinação sazonal outono-inverno 2024-2025, que se inicia na sexta-feira, "foram adquiridas cerca de 360 mil vacinas de dose elevada, suficientes para responder à procura esperada".
A campanha de vacinação sazonal do outono-inverno de 2024-2025 começa na sexta-feira e, este ano, nas farmácias comunitárias é recomendada a vacinação para utentes entre 60 e 84 anos de idade.
Este ano, a vacinação contra a gripe com dose reforçada é alargada às pessoas com 85 ou mais anos de idade - para além das pessoas residentes em lares e na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) -, mas estes utentes terão de ser vacinados nos centros de saúde.
A decisão de retirar das farmácias a vacinação das pessoas com 85 aos ou mais já tinha merecido críticas da Ordem dos Farmacêuticos (OF), que considerou que "seria benéfico" continuar a permitir a vacinação desta população nas farmácias comunitárias.
A OF considerou igualmente que a alteração poderá ser "uma complexidade adicional" para a população e para o processo de vacinação.
O Governo vai gastar 7,6 milhões de euros com a vacinação contra a covid-19 e a gripe nas farmácias e quer ter mais pessoas vacinadas até ao final de novembro.
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