"Foi preciso vir viver para uma aldeia pacata, rodeada de montes e vegetação, para sofrermos esta descriminação brutal e gratuita traduzida em gestos de insulto, ameaça e violência física", contaram à agência Lusa Noé Quintela e Martim Pedroso, que durante 45 anos viveram em centros urbanos.
Desde que há um ano se mudou para São Domingos de Carmões, o casal foi sentindo "alguma hostilidade por parte da vizinhança próxima", sendo "insultados" por estacionarem na via pública para descarregar móveis, logo no primeiro dia das mudanças, ou compras para a casa.
"A agressividade, o ódio, a violência verbal, a falta de educação são os denominadores comuns destes vizinhos", afirmaram.
A situação agravou-se no dia 31 de agosto, quando Noé Quintela, ao regressar a casa, estacionou na via pública para descarregar material de trabalho e foi vítima de violência verbal e física por um dos vizinhos.
Segundo relatam, o alegado agressor foi buscar uma chave de rodas para o atingir na cabeça, levando Noé Quintela a defender-se com a mão, sendo aí atingido e ficado com marcas da agressão, o que motivou uma deslocação ao hospital de Torres Vedras, no distrito de Lisboa.
Antes de se ausentar do local no seu automóvel, o vizinho ainda os ameaçou de morte, acrescentaram à Lusa.
O casal apresentou queixa na GNR pelos crimes de difamação, violência verbal e física, ameaça de morte e ódio. O auto de notícia da GNR, a que a Lusa teve acesso, corresponde ao que descreveram.
"Esperamos que a justiça tenha o efeito pedagógico que é suposto ter", sublinharam.
Contactada pela Lusa, a GNR confirmou que "no dia 31 de agosto tem registo de uma denúncia que se enquadra no descrito, tendo os factos sido comunicados ao Ministério Público de Torres Vedras".
Receoso de viver na sua casa enquanto a justiça não atua, "só porque são 'gays' numa aldeia de Portugal", o casal pondera mudar de local de residência.
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