A neta do capitão do exército português Artur Carlos Barros Basto, conhecido como 'Dreyfus português', apresentou uma queixa no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) onde exige que o Estado português reintegre o avô nas Forças Armadas e apresente um pedido de desculpas público, revelou a Comunidade Judaica do Porto, num comunicado enviado ao Notícias ao Minuto.
O capitão Barros Basto, que em 1923 foi um dos fundadores da Comunidade Judaica do Porto, foi afastado das suas funções no exército português em 1937, depois de ter participado na circuncisão dos seus alunos, o que, de acordo com a comunidade, "retirou-lhe também o salário, a pensão e as regalias sociais".
Segundo a comunidade judaica, as várias tentativas de reintegração de Barros Basto ao longo dos anos foram inconclusivas. Perante a inação do Estado português e a violação "do artigo 6.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que garante a qualquer pessoa o direito a uma audiência justa num prazo razoável", a neta de Barros Basto recorreu ao Tribunal Europeu.
Isabel Barros Lopes, que é hoje em dia vice-presidente da Comunidade Judaica do Porto, exige não só a reintegração póstuma do seu avô no exército, por parte d Estado português como "um pedido de desculpas à família do oficial visado por um caso terrível que se arrasta há quase um século".
Em 2023, a responsável, já tinha explicado à comunicação social que, "na base do afastamento do avô estão cartas anónimas caluniosas - a velha tática contra os judeus — que o acusavam de comportamentos imorais".
"O Estado aproveitou as denúncias para investigar a vida do meu avô até ao limite e, sendo as acusações eram falsas, improvisou uma vergonhosa condenação por ele intervir nas operações de circuncisão dos seus alunos”, garantiu a neta do antigo capitaõ português, na altura.
Barros Basto, que faleceu em 1961, é comparado pela comunidade judaica a Alfred Dreyfus, o oficial francês que foi expulso das Forças Armadas francesas e destituído das suas patentes depois de ter sido injustamente acusado, julgado e condenado por traição em 1894.
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