Em comunicado, a direção nacional da PSP indica que, depois dos distúrbios ocorridos durante a madrugada, na sequência da morte de um morador baleado pela PSP na Cova da Moura, ao final da tarde voltaram a ocorrer "situações de desordem no interior do Bairro do Zambujal", nomeadamente "um episódio grave de violência urbana", com o roubo de um autocarro da Carris que foi incendiado.
"Apesar de vários esforços, não foi possível até ao momento detetar e intercetar os suspeitos deste crime violento, tendo, todavia, sido já efetuada uma detenção por posse de material combustível, que indiciava a sua utilização para deflagração de incêndio", acrescenta a PSP.
Na nota, a PSP reitera lamentar a morte de Odair Moniz, que está a ser investigada pelas autoridades judiciárias, e deixa "uma palavra de solidariedade" aos dois polícias envolvidos no incidente e a todos os agentes envolvidos na reposição e manutenção da ordem pública no concelho de Amadora.
"A PSP está empenhada em repor a tranquilidade no Bairro do Zambujal, na Amadora, pelo que apelamos à calma de todos os cidadãos, estando ainda a PSP apostada em manter as parcerias de muitos anos com as comunidades no concelho da Amadora", refere a direção nacional da força de segurança.
Contudo, é acrescentado, não serão tolerados "atos de desordem e de destruição praticados por grupos criminosos, apostados em afrontar a autoridade do Estado e em perturbar a segurança da comunidade".
Um autocarro ficou hoje ao final da tarde completamente destruído no bairro do Zambujal, no cruzamento das ruas das Galegas e do Cerrado do Zambujeiro.
Segundo relatou à Lusa uma moradora, o autocarro foi mandado parar por um grupo de jovens do bairro que, depois de o motorista sair, lançou fogo à viatura. Foram também ouvidas explosões e disparos, perto de prédios de habitação no interior do bairro.
Equipas de Prevenção e Reação Imediata (EPRI) e de Intervenção Rápida (EIR) da PSP, que se encontravam na Praça São José, num dos acessos ao Zambujal, deslocaram-se nessa altura para o interior do bairro, dispositivo pouco depois reforçado com quatro carrinhas e outra viatura da Unidade Especial de Polícia.
Ainda durante a tarde, moradores do Zambujal promoveram uma concentração no bairro para exigirem "justiça" pela morte de Odair Moniz, na madrugada de segunda-feira.
Os manifestantes acabaram por desmobilizar após cerca de 20 minutos, mas ao longo da tarde continuaram-se a escutar petardos a rebentar no interior do bairro.
Odair Moniz, de 43 anos, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a direção nacional da PSP, o homem pôs-se "em fuga" de carro depois de ver uma viatura policial na Avenida da República, na Amadora, e "entrou em despiste" na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, "terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca".
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigem uma investigação "séria e isenta" para apurar "todas as responsabilidades", considerando que está em causa "uma cultura de impunidade" nas polícias. De acordo com os relatos recolhidos no bairro pelo Vida Justa, o que houve foram "dois tiros num trabalhador desarmado".
Na segunda-feira, o Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna a abertura de um inquérito urgente e também a PSP anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar as circunstâncias da ocorrência. O agente que baleou o homem foi entretanto constituído arguido, indicou fonte da Polícia Judiciária.
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