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Navio destinado a levar armas para Israel deixou Lisboa. O que aconteceu?

De acordo com o Governo, a embarcação pediu autorização para atracar em Lisboa para descarregar 144 contentores. Contudo, e segundo o BE, a acusação não se referia à carga que o navio transportava no momento, mas sim ao facto de participar numa rede de cargueiros que transporta armas dissimuladamente para Israel.

Navio destinado a levar armas para Israel deixou Lisboa. O que aconteceu?
Notícias ao Minuto

08:11 - 10/11/24 por Notícias ao Minuto com Lusa

País Médio Oriente

O navio Nysted MAERS, que estará envolvido num "esquema ilegal de abastecimento de armas" para Israel, deixou Lisboa esta manhã de domingo, pelas 6h30, segundo vários sites de controlo de tráfego marítimo consultados pelo Notícias ao Minuto. A embarcação, que tem bandeira de Hong Kong, atracou no porto da capital portuguesa por volta das 20h30 de ontem, depois de ter sido redirecionada para Portugal face às proibições impostas em Espanha, pelas 00h46 de sábado.

 

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, escusou-se a comentar a situação, justificando que se tratava de "um tema sensível". Por seu turno, o Ministério das Infraestruturas e Habitação garantiu que não havia "nenhum contentor com destino a Israel". Ainda assim, o Bloco de Esquerda (BE) alertou que "o Governo foi enganado ou quis ser enganado".

"Já ouvi várias versões, mas não me vou pronunciar sobre uma matéria que é muito específica, muito sensível, num momento sensível sobre um tema sensível que diz respeito ao conflito em curso no Médio Oriente", disse Marcelo Rebelo de Sousa, que ressalvou que poderá "estar ou não preocupado, conforme a matéria que apurar".

Antes, o Ministério das Infraestruturas e Habitação reforçou que não proibiria a entrada do navio no porto de Lisboa, tendo em conta as informações que obteve através do manifesto de carga e das declarações prestadas pelo armador e outras autoridades.

Segundo o Governo, a embarcação pediu autorização para atracar em Lisboa para descarregar 144 contentores, que incluíam automóveis, roupa, alimentos, sementes, mobiliário, cerâmica, copos de vidro, champôs e sabões, quadros e pinturas, aparelhos elétricos, cabos de fibra ótica e diversos metais (lingotes de cobre, granalha de ferro, ligas à base de cobre-zinco).

"Este navio prevê partir na manhã de amanhã [domingo], 10 de novembro, sem efetuar qualquer carga. Em resposta a pedido de esclarecimento, foi-nos reconfirmado que não é transportada qualquer carga militar, armamento ou explosivos", adiantou o Executivo, que garantiu que não havia "nenhum contentor com destino a Israel" e que, entre a carga que transportava e que não seria descarregada em Portugal, estavam "três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA".

E reiterou: "Foi-nos reconfirmado que não é transportada qualquer carga militar, armamento ou explosivos."

"A única dúvida que existe é saber se o Governo foi enganado ou quis ser enganado"

Recorde-se que a denúncia partiu do Comité Nacional Palestiniano BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), que deu conta de que o navio esteve envolvido, durante meses, em mais de 400 transportes ilegais de armas para Israel, através do uso do porto espanhol de Algeciras.

Até agora, segundo o BDS, o navio usava aquele porto para descarregar armamento que, depois, seria levado até Israel noutros navios. No entanto, o Governo espanhol terá proibido a utilização do porto e, por isso, a solução passou a ser Portugal.

Na ótica do BE, as declarações do Governo serviram apenas para "desconversar", já que a acusação não se referia à carga que o navio transportava no momento, mas sim ao facto de participar numa rede de cargueiros que transporta armas dissimuladamente para Israel.

"A única dúvida que existe é saber se o Governo foi enganado ou quis ser enganado", defendeu o líder parlamentar bloquista, Fabian Figueiredo, ao mesmo tempo que considerou que "os portos portugueses não devem servir de plataforma para o genocídio em Gaza".

Por sua vez, a coordenadora do BE, Mariana Mortágua, reiterou que "o problema não é a carga a bordo agora", mas o facto de "seguir para Marrocos ao encontro de outro navio Maersk (já banido pelo governo de Espanha quando o esquema foi descoberto) do qual receberá a carga ilegal para entregar ao Estado genocida".

"O Governo responde de novo com bugalhos e olha para o lado. Façam como Espanha e cumpram a resolução que aprovaram na Organização das Nações Unidas (ONU)", escreveu, na rede social X (Twitter).

Dezenas de pessoas reuniram-se junto ao porto de Lisboa para se manifestar contra o atracamento da embarcação, entre elas membros do Palestina em Português e do Comité de Solidariedade com a Palestina, além de vários estudantes que têm participado em ações em defesa do povo palestiniano.

"Portugal está a ser cúmplice", acusou Sandra Machado, da PUSP - Plataforma Unitária de Solidariedade com a Palestina, uma das organizações envolvidas no protesto.

"Enquanto Israel continua o seu genocídio de mais de 2,3 milhões de palestinianos em Gaza, bombardeando sistematicamente campos refugiados, escolas e hospitais, é inadmissível que Portugal seja cúmplice de genocídio, permitindo que os seus portos sejam usados em operações ilegais de transporte de armas", sublinha a PUSP num comunicado enviado para a Lusa.

Os organizadores do protesto recordaram ainda a resolução do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, que "define que Portugal tem a obrigação moral e legal de não colaborar na transferência de equipamentos militares para Israel, uma vez que a sua utilização por este país viola a lei humanitária internacional e os direitos humanos".

Leia Também: Navio "na rota do genocídio" em Gaza? "Governo foi enganado ou quis ser"

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