Um estudo do Iscte, cujos dados foram divulgados esta terça-feira, num comunicado enviado ao Notícias ao Minuto, revela que os imigrantes foram quem mais sofreu psicologicamente com a pandemia em Portugal e que, entre estes, as mulheres foram as mais vulneráveis, com maiores níveis de depressão e sofrimento psicológico.
Segundo os dados analisados, a situação financeira foi das principais causas de insegurança.
"Fatores como a discriminação, a insegurança económica e a falta de apoio social intensificaram os níveis de ansiedade e de sofrimento psicológico dos imigrantes em Portugal durante a pandemia da Covid-19 [...]. Apesar de a crise sanitária ter sido sentida por todo o país, o impacto psicológico sobre a população imigrante foi desproporcional e ampliou as desigualdades pré-existentes", lê-se na nota dos investigadores.
O estudo indica ainda que a deterioração das condições económicas foi "um dos maiores fatores de insegurança" entre os imigrantes, "aumentando a exposição ao risco de contaminação e o medo constante de adoecer sem poder arcar com despesas ou proteger as respetivas famílias".
O medo e a incerteza foram acompanhados de "um sentimento de desamparo, especialmente entre aqueles que enfrentavam dificuldades para ter acesso a recursos de proteção social e de saúde mental".
Os dados mostram que uma grande parte dos imigrantes continuaram a trabalhar, mesmo em situações de elevado risco de contágio, tendo tido, por isso, altos índices de infeção. "Enquanto muitos cidadãos conseguiram proteger-se em casa, outros – principalmente os imigrantes em empregos essenciais – continuaram expostos por não terem escolha, uma vez que dependiam do trabalho para sobreviver", explica Violeta Alarcão, socióloga, investigadora do Iscte e coordenadora do estudo, que alerta para a responsabilidade do Estado em proteger todos os cidadãos, independentemente de sua condição social ou origem.
"É uma desigualdade que precisa de respostas adequadas", afirma, notando a urgência de desenvolver políticas públicas mais inclusivas e adaptadas às necessidades de grupos vulneráveis como os imigrantes.
A investigação faz parte do projeto Equals4COVID19 e reúne especialistas do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Iscte e do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Os resultados do estudo serão apresentados publicamente esta terça-feira, 19 de novembro, numa conferência dedicada às 'Novas Fronteiras na Saúde' e aos desafios das políticas públicas na era digital.
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