Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas durante um almoço de Natal para pessoas em situação de sem-abrigo em instalações do Metropolitano de Lisboa, a propósito do boletim económico de dezembro do Banco de Portugal, no qual se aponta para "o regresso a uma situação deficitária" em 2025, 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
"É verdade que o primeiro-ministro diz que o governador vai em contramão, porque as previsões vão todas no sentido oposto. Mas isso sempre foi assim. Quando era ministro, o atual governador, Mário Centeno, foi sempre, em matéria de finanças, muito exigente e muito ortodoxo. E, portanto, não muda, naquela idade já não muda", comentou.
Segundo o chefe de Estado, Mário Centeno "prefere prevenir sempre, apertar sempre -- era a grande questão com os colegas do Governo: eles a quererem gastar e ele a querer apertar".
Agora, por causa da conjuntura externa, "o governador quis dizer ao Governo: não estiquem muitas despesas, porque havia folga, e ainda há folga, mas a folga tem limites", tendo em conta os "aumentos em vários setores da Administração Pública, de prestações que estavam devidas e prometidas há muito tempo", resumiu.
"É muito a posição que ele tinha como ministro das Finanças. Ele já como ministro das Finanças era muito agarrado e muito apertado, no sentido de mais vale prevenir do que remediar, e tinha sempre uma grande preocupação em relação à despesa pública", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República referiu que "ainda não começou o ano" e considerou que, "mais do que uma previsão", Mário Centeno quis fazer "um aviso político" ao executivo PSD/CDS-PP chefiado por Luís Montenegro, "como quem diz: no ano que vem eu não vos largo quanto a este ponto".
Questionado se subscreve esse aviso e se também está preocupado, o chefe de Estado respondeu: "Não, não estou preocupado. Neste sentido: ainda não começou o ano. Eu estou preocupado com a situação internacional, estou. Mas tenho a noção de que um Governo minimamente atento percebe, se estiver a correr lá fora mal, que não tem tanto dinheiro para poder gastar".
Na sua opinião, "o Governo naturalmente tem espaço de manobra, tem doze meses para ver o que se passa e para não gastar aquilo que possa dar um défice", em função da situação económica europeia e internacional.
Marcelo Rebelo de Sousa dividiu as previsões do Banco de Portugal entre "boas notícias" para este ano e "menos boas notícias" para 2025.
Sobre 2024, realçou: "Elevou a taxa de crescimento, vamos crescer um bocadinho mais do que se pensava, ele coloca 1,7%, o que em termos europeus é bom. Não subimos o desemprego, aguentamos o Orçamento com superávite, temos o turismo a aguentar muito bem, o investimento externo razoável e o consumo interno a aguentar".
Quanto a 2025, o chefe de Estado mencionou que o Banco de Portugal "admite um crescimento para o ano que vem razoável, aí não é pessimista", mas "está muito pessimista sobre a evolução no mundo e na Europa", teme "que a Alemanha não arranque, que a França tenha maus resultados" e que isso tenha efeitos em Portugal.
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, é neste contexto que "há ali é uma preocupação é que as despesas subam tanto que acabam por dar um mínimo défice", de 0,1% do PIB, que relativizou: "Quando se medir, pode ser mais 0,1% ou menos 0,1%".
Questionado novamente sobre a intenção de PSD e CDS-PP de restringirem o acesso de estrangeiros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), o Presidente da República voltou a responder que quer, primeiro, conhecer as propostas de alteração à lei, "que ainda vão ter um grande debate", prometendo pronunciar-se a seguir.
[Notícia atualizada às 16h27]
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