A "operação especial de prevenção criminal" levada a cabo pela Polícia de Segurança Pública (PSP) na quinta-feira, no Martim Moniz, em Lisboa, está a causar polémica pelo aparato mas, sobretudo, pelas imagens transmitidas pelas televisões e que circularam nas redes sociais, mostrando dezenas de pessoas viradas para uma parede, sob supervisão dos agentes.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, desvalorizou a controvérsia, afirmando que é "importante que as operações decorram e que haja visibilidade", mas nem todas as personalidades políticas do país têm a mesma opinião.
O Bloco de Esquerda, PCP e Livre querem ouvir a ministra da Administração Interna no Parlamento e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, avisou que a "segurança é importante", mas deve ter "recato".
Entre o poder local, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, da qual faz parte o Martim Moniz, defendeu que a ministra da Administração Interna não tem condições para continuar em funções após a "inaceitável" operação policial e deslocou-se ao local para "pedir desculpa" às pessoas. "Já que não vai lá o senhor Presidente da República, vou lá eu", disse.
O ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, questionou a operação, que considera ter sido conduzida "à maneira de Putin" e lamentou o "ponto de miséria a que se pode chegar".
Ainda do lado dos socialistas, o antigo líder Ferro Rodrigues afirmou-se "em choque" com o que viu e com as "declarações indecorosas" de Montenegro, destacando a foto que se tornou viral nas redes sociais, "com dezenas de pessoas encostadas às paredes perante polícias armados, como se estivessem numa guerra".
Já o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, confessou-se "envergonhado e revoltado" com o executivo e a direção da PSP, considerando que este é o "Governo mais extremista" das últimas décadas da democracia portuguesa. Por isso, exigiu que tanto o Governo como a polícia expliquem os fundamentos desta ação, sobre a qual há "fundadas razões" para haver dúvidas sobre a sua legalidade.
O ex-ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, partilha da mesma visão, pedindo "explicações claras" ao primeiro-ministro e referindo que é preciso cumprir "princípios da adequabilidade e da proporcionalidade" nestas operações.
Quem não tem a mesma opinião é atual secretário de Estado da Administração Interna, Telmo Correia, que considera que as críticas dos partidos à esquerda parlamentar "não fazem sentido" e alertou que "não compete" ao Governo comentar operações policiais em concreto.
Desta operação policial no Martim Moniz resultou a detenção de duas pessoas e a apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.
Leia Também: Pedro Nuno visita Martim Moniz. "Ação da PSP não fez nada pela segurança"