A Lusa teve hoje acesso a uma missiva enviada esta semana a estudantes de Erasmus da Universidade do Porto (U.Porto), onde se indicava que não iriam receber a bolsa em dezembro, por causa de "problemas técnicos" e que essa transferência monetária iria ser transferida algures no mês de janeiro de 2025.
"Gostaríamos de informar que devido a um problema técnico (que não foi possível ultrapassar em tempo útil, apesar de todos os esforços envidados), a transferência da sua bolsa só será processada pelos nossos Serviços Financeiros durante o mês de janeiro. Agradecemos a sua compreensão, lamentando o atraso na transferência. Com os melhores cumprimentos e votos de Boas Festas", lê-se na missiva.
Maria L. é uma das estudantes bolseiras da U. que recebeu esta mensagem por via de correio eletrónico.
Em entrevista telefónica à Lusa, a estudante explica que está muito preocupada, pois não tem como pagar a renda em Espanha, país onde está a realizar o seu Erasmus desde o início do ano letivo e onde vai continuar no segundo semestre.
A estudante bolseira refere que as bolsas são ridiculamente baixas -- cerca de 400 euros por mês -- e que não servem para pagar as despesas da renda, eletricidade, água e transportes, muito menos num sítio que não tem voos diretos.
"Em Espanha, por exemplo, não existem quartos a menos 300 ou 400 euros se for numa localidade periférica. E quando se está num sítio que não tem voos diretos e não há comboios a sair a fronteira portuguesa, há que utilizar autocarros e, nestes locais, os bilhetes são caros. A isso acresce todo o resto", desabafa a investigadora, acrescentando que este atraso de entrega das bolsas, para quem inicia o Erasmus neste semestre pode "representar um motivo para desistir".
Um outro estudante investigador da U.Porto, Mário T., afirma que também recebeu o mesmo e-mail a indicar o atraso da bolsa para o segundo semestre e que esse atraso já sucedeu em setembro, aquando partiu para o primeiro semestre do programa Erasmus em Espanha.
O atraso nas entregas das bolsas é um "motivo para desistência do programa Erasmus, pois além do atraso para arrendar uma casa por quatro meses, o valor monetário não é suficiente para pagar as despesas e porque ainda temos de continuar a pagar as propinas em Portugal", explica Mário T., acrescentando que o valor da bolsa em Portugal "não é suficiente para cobrir as despesas e que, por isso, muitos estudantes optam por não ir para Espanha ou Inglaterra e ficam em países onde o euro vale mais".
Em declarações telefónicas à Lusa, fonte do gabinete de imprensa da U.Porto explicou que há 106 estudantes que efetivamente viram adiada a transferência das suas bolsas de estudo, devido a uma "mudança de sistema informático de processamento de contas".
"Contamos que o problema da atualização do sistema informático seja resovido na "próxima semana" e que a entrega de bolsas não tenha de ser adiada para janeiro de 2025.
O grupo de estudantes afetado foi o último grupo de aprovações de bolsas que vão no 2º semestre do ano lectivo 2024-2025.
"É o adiantamento do segundo semestre", explicou gabinete de imprensa, referindo que "90% desses alunos ainda estão em Portugal e só vão para fora em fevereiro".
Segundo a mesma fonte, os estudantes estiveram reunidos na Reitoria da U.Porto, no dia 12 de dezembro passado, e foi-lhes dito que iriam receber as bolsas em dezembro.
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