O secretário de Estado da Administração Interna, Telmo Correia, salientou, esta segunda-feira, que “a polícia não deixará de fazer o seu trabalho”, ao mesmo tempo que reforçou que “o Governo não dirige operações, não encomenda operações e muito menos diz às polícias como é que atuam em cada cenário”, face à operação policial no Martim Moniz e à carta aberta dirigida ao primeiro-ministro e assinada por 21 personalidades da área da política e da justiça.
“Em relação à forma como o Governo recebeu ou não a carta, sinceramente, não faço ideia. A missiva não foi dirigida a mim, foi dirigida ao primeiro-ministro e, portanto, caberá ao primeiro-ministro responder”, disse o responsável, em declarações à imprensa.
Ainda assim, o secretário de Estado da Administração Interna confessou que não ficou surpreendido com os subscritores da carta, uma vez que “sabemos que há sempre pessoas a queixarem-se porque não há polícia, não há polícia que chegue, a polícia não aparece, a polícia não atua”.
“Quando a polícia atua, também há sempre pessoas a queixarem-se que não devia ter atuado, não devia ter feito assim. O caso mais curioso é que, às vezes, são as mesmas; isso ainda é mais estranho”, disse.
Telmo Correia negou ainda haver uma aproximação com o partido populista de direita radical Chega, argumentando que “o Governo está a cumprir o seu programa, que é o que o Governo é obrigado a fazer”.
Disse, ainda, que poderão ocorrer mais operações semelhantes, já que “a polícia não deixará de fazer o seu trabalho”. Sublinhou, contudo, que “o Governo não dirige operações, não encomenda operações e muito menos diz às polícias como é que atuam em cada cenário”.
“As nossas forças de segurança têm da melhor preparação que há, têm da melhor formação que há, são sensíveis às questões de direitos humanos. Conheço pessoalmente e muito bem os seus comandantes, os seus diretores nacionais, e virem insinuar que os diretores das polícias são instrumentalizados politicamente é surreal”, complementou.
Saliente-se que os subscritores da carta divulgada ontem pelo jornal Público consideram urgente alertar Luís Montenegro para a "circunstância intolerável de, 50 anos depois do Abril", que trouxe o Estado social e de direito, o Governo "ter dado esta semana sinais inequívocos de não compreender o sentido profundo de 'Estado social' nem de 'Estado de direito', atingindo no coração e no osso o projeto social do povo português inscrito na Constituição desde a conquista da democracia".
A carta é assinada por 21 personalidades, a maioria da área política da Esquerda, como o ex-presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva, a antiga ministra da Administração Interna do Governo PS Constança Urbano de Sousa, a ex-secretária de Estado da mesma tutela Isabel Oneto, e os líderes parlamentares do PS, Alexandra Leitão e Fabian Figueiredo, do BE.
Os líderes do PAN, Inês de Sousa Real, do Livre, Rui Tavares, a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, e a eurodeputada Catarina Martins (BE) assinam a carta, bem como os ex-deputados António Topa Gomes, do PSD, Manuel Loff, do PCP, e José Leitão, do PS.
Em causa está uma operação policial que decorreu na quinta-feira, no Martim Moniz, e que resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.
O enorme aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais em que se vislumbram, na Rua do Benformoso, dezenas de pessoas encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia, e comentários sobre a necessidade daquele procedimento.
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