A antiga eurodeputada Ana Gomes falou, no domingo, acerca da luta contra o racismo, que levou milhares de pessoas a saírem à rua em Lisboa no dia anterior. No mesmo dia, também o Chega juntava nos arredores centenas de pessoas numa concentração denominada 'Pela autoridade e contra a impunidade' - convocada já depois da manifestação contra o racismo ter sido marcada.
A socialista apontou que a zona do Martim Moniz, "como outras, precisa d policiamento de proximidade", mas que este policiamento se destina à articulação com a comunidade, à obtenção de informações e à "desarticulação de problemas".
"Não foi isso que vimos naquela operação", considerou, referindo-se à operação policial que levou aos protestos contra o racismo, depois de imagens de imigrantes encostados à parede gerarem indignação.
"O primeiro-ministro tem aí um problema de perceção. Não só em relação a um problema de segurança que quis ligar à imigração - e depois tentou recuar, percebendo as implicações graves que tinha. E também tem um problema de perceção ontem quando falou da manifestação, que teve milhares de pessoas [...]", relembrou ainda.
Sublinhando que os protestos foram "pacíficos", solidários e respeitadores do Estado de Direito, Ana Gomes respondeu ainda às palavras deixadas pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, quando no sábado discursava e dizia que esse dia era um "onde os extremos erguem cada um a sua bandeira em contraponto".
"Acho que o primeiro-ministro deve ir, rapidamente, ao oftalmologista porque está com um problema de perceção", atirou.
Ana Gomes defendeu ainda que era "inacreditável" que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ainda não tivesse reagido à situação. "Devia intervir de uma forma que não deixasse criar-se uma perceção que é completamente errada - e contrária aos interesses do país, se se sugere que temos um grave problema de segurança quando não temos", justificou.
Do Martim Moniz para Belém
Para além da ausência de declarações por parte de Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes comentou ainda as declarações do Almirante Gouveia e Melo, que poderá vir a ser candidato a Belém.
Em relação à argumentação de um aumento para a Defesa, ainda que se possam prejudicar apoios sociais, Ana Gomes considerou que "há uma grande insensibilidade da parte do Almirante a defender essa posição".
Ana Gomes apontou que existe uma necessidade de equipar as Forças Armadas, mas que isso "não se pode fazer à custa do Estado Social" e se deve aproveitar a "sinergia europeia".
"É através da Europa que podemos juntar esforços, arranjar financiamento, para aquilo de que precisamos para a nossa segurança e defesa - que não é a segurança e defesa de um só país, tem de ser coletiva", defendeu.
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