Inverno após inverno, o cenário repete-se. As prateleiras dos supermercados da ilha das Flores, nos Açores, voltaram a ficar vazias. Faltam, batatas, cebolas, frutas e outros bens essenciais e o problema demora a ser resolvido.
Nas redes sociais foram muitos os moradores que se queixaram, mais uma vez, da falta de alimentos. Há até quem diga que não tem hortícolas suficientes para fazer sopa para os filhos.
As fotografias a que o Notícias ao Minuto teve acesso, mostram as prateleiras de um dos supermercados vazias. Escasseiam até os laticínios, numa terra conhecida por ter muitas "vacas felizes".
E o Notícias ao Minuto sabe que não é apenas neste supermercado que falta mercadoria.
'Episódio repetido' todos os anos
Supermercado, ilha das Flores© Notícias ao Minuto
O navio Margarethe, que faz o abastecimento da ilha das Flores, nos Açores, não consegue atracar devido às condições meteorológicas há 20 dias, mas este não é um problema de agora, é, aliás, um episódio que já foi demasiadas vezes repetido.
Desde que o furacão Lorenzo passou no arquipélago, em outubro de 2019, que esta ilha e a do Corvo têm vivido em permanente sobressalto com o escasso abastecimento de mercadorias.
O Porto das Lajes - o único onde atracam os barcos de mercadorias que fornecem com bens alimentares estas duas ilhas, que constituem o Grupo Ocidental do arquipélago - , ficou destruído durante a passagem do furacão e, desde aí, que o abastecimento de produtos tem sido um desafio.
Depois de um intenso trabalho efetuado com a ajuda da Forças Armadas e de locais, o anterior Governo Regional conseguiu que o porto ficasse apto a receber alguns barcos. Contudo, estes levam menos carga do que os navios que o faziam antes da destruição do porto.
A estes problemas deixados pelo Lorenzo, junta-se o mau tempo e a agitação marítima, que muitas vezes impede que os barcos atraquem na ilha das Flores.
Força Aérea entrega bens de primeira necessidade
Supermercado, ilha das Flores© Notícias ao Minuto
Entretanto, depois de o problema ter sido exposto, por várias pessoas, comerciantes e partidos, o Governo de José Bolieiro, anunciou que a Força Aérea Portuguesa vai transportar, esta sexta-feira, bens de primeira necessidade para a ilha das Flores.
Numa nota enviada às redações, o governo açoriano refere que as previsões meteorológicas para os próximos dias "mantêm-se altamente limitadoras da operação marítimo-portuária", continuando a condicionar o abastecimento à ilha das Flores, "pelo menos até à próxima terça-feira e em dias posteriores novamente".
Na mesma nota, Executivo Regional lembrou que as dificuldades de abastecimento das Flores não se devem apenas ao estado do mar e ondulação junto à ilha, mas também no trajeto entre São Miguel, o Faial e as Flores, que "condicionam e colocam em causa a segurança da embarcação e da carga", garantindo que "mantém e manterá" um acompanhamento permanente da situação e "uma interação colaborante e diligente junto de todos os parceiros públicos e privados", no sentido de "assegurar o abastecimento da ilha das Flores assim que se verifiquem as condições mínimas para o efeito"
"Aproveitamento político"
No seu site oficial, o governo dos Açores acusa ainda o Partido Socialista (PS) de "aproveitamento político", "com uma gravíssima conduta de desinformação premeditada", depois de terem divulgado um vídeo a falar do assunto.
Porém, para muitos florentinos, foi essa mesma exposição que fez com que o abastecimento de bens à ilha fosse assegurados, como é possível observar nas redes sociais.
"Inqualificável é esta tentativa de vitimização do Governo Regional, que tinha conhecimento da escassez de bens de primeira necessidade na ilha das Flores, e que dá a entender que só acionou os meios da Força Aérea, porque houve 'aproveitamento político' por parte da oposição", escreveu, por exemplo, o jovem Francisco Freitas, no Facebook.
O Notícias ao Minuto sabe que o avião militar vai já a caminho das Flores, com 3 mil kg de mercadoria. Contudo, muitos empresários continuam descontentes com a situação e criticam a forma como esta operação foi feita, uma vez que nem todos foram "contactados" pelo Governo de forma a restabelecer a normalidade.
[Notícia atualizada às 16h30]
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