Robôs apoiam utentes e serviços médicos no hospital da Figueira da Foz

Robôs a circular por restaurantes e outros locais há muito que deixou de ser ficção científica, mas no Hospital Distrital da Figueira da Foz (HDFF) o apoio a utentes e serviços médicos tem gerado imensa curiosidade.

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Lusa
02/02/2025 06:06 ‧ há 2 horas por Lusa

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Figueira da Foz

São três os robôs em serviço no HDFF, sede da Unidade Local de Saúde (ULS) do Baixo Mondego, e não são anónimos: o Areias, a Maresia e a Brisa foram assim batizados num referendo aos profissionais de saúde que ali trabalham, e, de entre as suas funções, encaminham utentes para exames, distribuem medicamentos entre os diversos serviços hospitalares e falam e interagem com adultos e crianças, entre outras características muito específicas que possuem, constatou a reportagem da agência Lusa.

 

Em consulta no seu gabinete junto ao átrio da unidade hospitalar, a médica cirurgiã Raquel Dias, com um clique no seu computador, dá uma ordem ao Areias, que, no seu 'posto de trabalho', localizado a poucos metros, aguarda que o chamem.

O robô, em tons de amarelo-claro e com um ecrã frontal que mimetiza expressões humanas -- abre os olhos, sorri e também dorme, quando está a carregar a bateria -- demora poucos segundos a chegar à porta do gabinete, pronto para indicar ao doente o caminho para o serviço de imagiologia, onde aquele utente irá efetuar o requerido exame de Raio X.

"Para nós, é uma novidade, mas é uma boa novidade, tudo o que é novo tem é de ser compreendido e aceite. Mas os doentes poderem ser acompanhados quando têm de ir ao Raio X, parece-me uma vantagem muito grande", afirmou Raquel Dias.

O acompanhamento dos doentes, especialmente os mais idosos, na deslocação aos vários serviços do hospital, é habitualmente feito por funcionários e os robôs complementam essa função.

Neste caso, o Areias saiu do átrio do HDFF à frente do utente, circulando devagar, mas adequando a sua velocidade à da pessoa que acompanha. Está sempre em movimento, desvia-se de eventuais obstáculos com os diversos sensores que possui e vai repetindo para si mesmo (sendo audível para quem o rodeia) as voltas à esquerda ou à direita que tem de dar para chegar ao destino.

Marco Pedrosa, apoiado numa muleta, tinha como destino o serviço de ortopedia, no segundo andar do hospital. Pediu indicações ao segurança, à entrada, este dirigiu-se ao Areias, clicou no ecrã tátil da máquina para indicar o destino pretendido e seguiram os dois, robô e utente, pelo corredor fora.

O robô adequa a velocidade ao caminhar de Marco -- mais lento, pela muleta que o ajuda a andar -- e, pelo meio, até chama o elevador, conectando-se ao sistema informático do hospital. Depois, na subida até ao segundo andar, o Areias ainda expressa, em áudio, o gosto que tem em acompanhar o utente. Deixa-o à porta da ortopedia e, momentos depois, regressa, sozinho, ao ponto de partida.

"É muito bom, é funcional, ajuda-nos a localizar o serviço e acompanha-nos até à entrada. Foi a primeira vez, mas achei muito interessante, ele acompanha-nos à velocidade que nós seguimos e é prático", enfatizou Marco Pedrosa.

No lado nascente do HDFF fica a farmácia hospitalar, onde a diretora, Teresa Pereira, destacou a mais-valia do robô Maresia, na "poupança, em termos de tempo, face aos técnicos auxiliares de saúde, e substituí-los na distribuição de medicamentos pontuais" aos serviços hospitalares.

"O grosso da medicação são os nossos técnicos que fazem. Mas estes pedidos pontuais, que um enfermeiro ou um médico pede urgente, é um trabalho que não é tão específico e que o robô consegue fazer perfeitamente", advogou.

E a distribuição de medicamentos pontuais tem associadas características específicas para ser realizada, neste caso, pela Maresia: a robô, porque assim foi batizada enquanto menina, depois de chamada e municiada de medicamentos, num compartimento próprio, pelo técnico Rui Romão, dirige-se ao serviço escolhido e, com a porta fechada, telefona para o interior. O enfermeiro ou enfermeira que estiver de serviço atende a chamada, abre a porta e recolhe, com um código único que possui, os medicamentos que o robô transporta.

Por detrás dos três robôs está o trabalho de uma vasta equipa da ULS do Baixo Mondego, coordenada pelo diretor de sistemas de informação, Mário Antunes, e que envolveu, para além daquele serviço, a comunicação e imagem, serviços gerais, serviços farmacêuticos e áreas médica e de enfermagem, num projeto transversal de transformação digital.

"E a transformação digital na saúde não é uma tendência futura, já é uma realidade", vincou.

Os robôs, no caso os três em serviço da ULS do Baixo Mondego, acabam por ajudar a tornar mais eficientes os serviços prestados, realizando-os em menos tempo, "sempre com o objetivo de centrar todo esse ganho de valor no utente", disse Mário Antunes.

Indicou que projeto em curso foi desenvolvido pela unidade hospitalar com o apoio de especialistas da Universidade de Coimbra, para ser possível perceber o que era possível fazer com a tecnologia, levando em conta eventuais condicionantes e restrições existentes num hospital, concretamente ao nível da segurança dos utentes.

"Estes robôs têm fatores críticos de sucesso, não apenas o de detetarem obstáculos, mas conseguem identificar pessoas, se é uma pessoa com dificuldades de locomoção, uma criança ou um adulto com locomoção normal e adaptam os seus algoritmos para gerir essa segurança", explicou.

Outra característica que os robôs possuem, esta na interação com crianças -- um dos públicos naturalmente mais curiosos face à inovação -- passa pela possibilidade de 'desenharem' motivos infantis no chão com recurso a infravermelhos ou mesmo cantarem os parabéns a uma criança que esteja internada, no dia do seu aniversário.

À "magia" dos sistemas de informação, Mário Antunes não deixa, também, de destacar a diversão na interação com os robôs: "A robótica na saúde tem uma área de implementação muito grande, que se pode traduzir em ganhos de eficácia e eficiência. A ideia não é substituir pessoas, é permitir que as pessoas façam mais e cheguem mais longe, através da tecnologia que disponibilizamos. E, vamos ser sinceros, é divertido", considerou.

A mesma ideia da complementaridade com os profissionais de saúde foi expressa pela presidente do conselho de administração da ULS do Baixo Mondego, Ana Raquel Santos, que argumentou que os robôs "visam complementar e até humanizar a prestação de cuidados" de saúde.

"Tínhamos uma carência no hospital, em virtude da nossa dispersão, que fazia com que os utentes, muitas vezes, se sentissem perdidos e nós não temos um assistente operacional para ajudar cada um dos doentes. Nos dias de hoje, em saúde, as soluções passam pelo uso da tecnologia e aqui foi o que fizemos", enfatizou.

"Queremos oferecer este serviço garantindo que prestamos um atendimento o mais personalizado possível. Não visa substituir [ninguém], visa complementar e melhorar a experiência do doente connosco", garantiu Ana Raquel Santos.

Leia Também: Pedro Santana Lopes é o candidato do PSD à Câmara da Figueira da Foz

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