O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, defendeu que "o Hamas não pode ser parte da solução" na Faixa de Gaza e mostrou-se confiante de que será possível "manter o cessar-fogo" em vigor. Sobre os planos de Donald Trump, recusou tomar uma posição, defendendo que Portugal deve manter o "caminho diplomático", o que exige "cabeça fria", para manter "os canais abertos".
Numa entrevista à SIC, numa altura em que se enfrenta um impasse no acordo entre Israel e o movimento islamita radical, o diplomata português mostrou-se confiante de que "é possível manter o cessar-fogo".
"Por um lado, é evidente que para Israel e para o bem de Israel é muito importante manter o curso da libertação de reféns", começou por dizer o ministro. "Depois, sinceramente, não vejo que o Hamas tenha interesse em reabrir a violência", apontou.
De realçar que o Hamas ameaçou adiar a próxima libertação de mais três reféns depois de acusar Israel de não permitir a entrada de ajuda suficiente em Gaza ao abrigo do acordo e de violar os termos do cessar-fogo. Já o governo israelita, apoiado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu ao Hamas até sábado para libertar os reféns restantes ou o cessar-fogo ficará sem efeito.
"Estou convencido de que nos dias que temos para a frente, como aliás já aconteceu ao longo deste processo de cessar-fogo, poderemos ter um encontro de vontades que leve a que no sábado se cumpra aquilo que está estabelecido", afirmou Paulo Rangel.
Interrogado sobre os planos de Donald Trump para que os Estados Unidos assumam o controlo de Gaza e desloquem permanentemente os seus habitantes, com a ideia de construir a 'Riviera do Médio Oriente', o governante português não tomou uma posição e voltou a reforçar a importância de ter "cabeça fria" para manter "os canais abertos".
"Portugal foi, é, tradicionalmente, e continua a ser um defensor verdadeiramente empenhado da solução dos dois Estados e isso implica justamente apoiar e fazer um apelo a todas as partes envolvidas e a todos os atores internacional para manter o cessar-fogo", reiterou.
"Nós não temos depois de fazer a declaração sobre isto ou sobre aquilo, temos de manter o nosso caminho diplomático, que exige também muitas vezes prudência, contenção ou como eu já tenho dito, numa linguagem mais popular, cabeça fria. É preciso manter os canais abertos para todos", reforçou o ministro, referindo que a afirmação de princípios por parte do Governo é "suficiente", sem "hostilizar" e "criar incidentes".
O ministro dos Negócios Estrangeiros disse não ter "dúvidas" de que a Autoridade Palestiniana está a preparar-se para assumir o controlo da Faixa de Gaza no futuro, mas vai precisar de "ajuda" para ter a "capacidade institucional", sobretudo "no plano da segurança", onde necessitará de "ajuda externa"
"Mas há uma coisa que é evidente: o Hamas não pode ser parte da solução. Isto é uma posição clara do Governo português. O Hamas é uma organização terrorista capaz de coisas terríveis", frisou Paulo Rangel.
Recorde-se que Paulo Rangel está em visita a Israel e à Cisjordânia, tendo-se reunido em Jerusalém com o presidente israelita, Isaac Herzog, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Gideon Sa'ar, e, hoje, em Ramallah, com o primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana, Mohammad Mustafa.
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