A médica açoriana Ana Viveiros, de 27 anos, trabalha no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, cidade onde fez os três anos do ciclo básico de medicina, na Universidade dos Açores, concluindo depois a formação em Coimbra.
O "bom ambiente" do HDES e a "qualidade de vida" foram os fatores decisivos para a jovem médica se fixar na ilha de São Miguel.
"Sou uma pessoa muito ligada à ilha e à minha família. Além disso, já tinha ligação ao HDES. Como tirei o ciclo cá [nos Açores] conheci desde cedo o hospital. No HDES temos das melhores relações, incluindo entre médicos e enfermeiros, em comparação com situações do continente. Isso contribui para uma melhor prestação de cuidados", explica à agência Lusa.
A jovem vai rumar para Lisboa em agosto deste ano para tirar a especialidade em pediatria, mas já aponta como objetivo o regresso a São Miguel no fim do internato médico, reconhecendo que vai ganhar uma experiência "importante para aprofundar conhecimentos" na capital.
Sobre o exercício da profissão no HDES, o maior hospital dos Açores, assumiu que existem "limitações": "Não deixamos de ser um hospital periférico. Não temos, ao contrário dos colegas lá fora, tanta facilidade em conhecer e aprender técnicas e procedimentos".
O anestesista João Melo Borges, de 34 anos, também profissional do HDES, decidiu ficar nos Açores por "motivos familiares" e devido à "boa experiência durante o ano comum" no hospital de Ponta Delgada, depois de ter tirado o curso em Lisboa.
O açoriano, que acabou a especialidade em 2021, defende que a aposta na fixação de médicos no arquipélago deve passar por "não perder" quem passa pelos hospitais da região e alerta que a "falta de oportunidades cirúrgicas" e de "oportunidades para os mais jovens" são um entrave à atração de profissionais.
"O principal foco tem de ser em não perder as pessoas que já estão cá. Não perder as pessoas que acabam o curso e não perder as pessoas que acabam a especialidade aqui. Esse deve ser o principal meio de fixação", afirma João Melo Borges.
A médica madeirense Teresa, de 33 anos, fez os dois primeiros anos de licenciatura em Medicina na Madeira - os únicos que eram possíveis fazer na região à época -, tendo continuado os estudos em Lisboa.
Fez a especialidade em Medicina Familiar, durante quatro anos, em Vila do Conde, no distrito do Porto, mas acabou por regressar à ilha, apesar de essa não ser a sua ideia inicial, conta à Lusa.
"Eu pensava em ficar lá no Porto depois de terminar, mas com o passar dos anos e cada vez que eu vinha cá [Madeira] eu via como as pessoas que estavam cá a estudar, a tirar a especialidade, os meus colegas, tinham muito mais qualidade de vida do que eu", adianta.
A jovem médica decidiu regressar à Madeira após a especialidade e, logo que houve uma oportunidade, ingressou no Serviço Regional de Saúde, onde trabalha desde 2022.
A qualidade de vida, a proximidade à família e aos amigos, assim como o incentivo de 700 euros dado aos médicos pelo Governo Regional da Madeira, foram algumas das principais razões que pesaram na sua escolha, conclui.
No sentido inverso, a açoriana Inês Pereira, de 32 anos, optou por abandonar a região e rumar ao Luxemburgo, onde está a trabalhar desde janeiro, após sete anos em São Miguel.
A médica de família reconhece que nos Açores tinha "qualidade de vida" e "bom ambiente no trabalho", mas decidiu emigrar à "procura de melhores condições".
No Luxemburgo há "mais transparência nos concursos", trabalha 35 horas por semana em vez de 40, sobe na carreira de "forma mais rápida" e dispõe de mais 11 dias de férias por ano (33 dias em vez de 22).
"O que me fez por sair [dos Açores] foi perceber que acabamos por ser um bocado descartados, apesar de estarmos sempre a ouvir que os médicos são muito necessários", sublinha.
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