No seguimento da aprovação da lei europeia, Portugal tem até agosto de 2026 para apresentar um plano nacional de restauro e o Governo já criou um grupo de trabalho para a elaboração do Plano Nacional de Restauro da Natureza, que inclui organizações não-governamentais (ONG).
Em entrevista à Lusa, a primeira enquanto diretora-executiva da WWF Portugal, Ângela Morgado recorda a vasta experiência que as ONG têm no terreno em termos de restauro.
"As ONG de Ambiente (ONGA) sempre se anteciparam na proteção da natureza. Estamos sempre um pouco à frente dos governos e instituições", disse, relevando a importância de estas organizações serem ouvidas pelo Governo no processo do plano nacional de restauro.
A WWF, frisou, tem experiência no terreno, faz restauro de habitats, tem uma rede internacional em que se apoia. Ao longo dos anos, ainda sob a égide da WWF Mediterrâneo, trabalhou no restauro de áreas ardidas e nos últimos anos também no restauro de ecossistemas de estuários e marinhos.
O Dia Mundial da Vida Selvagem que se assinala hoje é também o primeiro dia do escritório nacional da WWF Portugal. Nos últimos sete anos a presença da organização internacional era através da Associação Natureza Portugal (ANP), que agora foi extinta para dar lugar à WWF portuguesa.
Nos últimos sete anos, recordou Ângela Morgado na entrevista à Lusa, a ANP/WWF teve projetos que beneficiaram direta ou indiretamente 124 espécies, dos lobo ao lince ou ao coelho bravo, dos tubarões às raias, dos cavalos-marinhos às lontras, do saramugo à enguia e à boga, do sobreiro ao medronheiro.
"Temos 90 projetos, 60 finalizados e 30 ativos, e restauramos 325 hectares de floresta (450 campos de futebol) a maior parte na Serra do Caldeirão, relacionados com incêndios, no projeto "plantar água", demonstrando que restaurando a floresta devolvemos água à natureza", disse Ângela Morgado, acrescentando a esse trabalho mais 10 quilómetros de rios restaurados, com remoção de barreiras, e restauro nas zonas costeiras.
"Já investimos cinco milhões de euros na natureza, nos últimos sete anos".
No próximo verão, disse, outra barreira obsoleta será removida também.
E nas áreas marinhas, acrescentou, há o projeto de desenvolver trabalho na Macaronésia (região que engloba os arquipélagos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), no sentido de atingir a meta de proteger 30% dos oceanos até 2030.
Para a área terrestre, a diretora-executiva fala de um projeto de restauro com a WWF Espanha, relacionado com áreas ardidas.
"A WWF internacional vai publicar os objetivos para 2030, que serão muito ambiciosos no restauro da natureza. E nós vamos privilegiar, na estratégia de conservação, a ambição, a coragem e a cooperação. É preciso restaurar o que ainda é possível, é preciso ambição, mas não estamos só a falar de ecossistemas, falamos de finanças sustentáveis, de mudanças no sistema alimentar, investindo no que não agride a natureza, da adaptação ao clima, de mobilizar as pessoas e trabalhar com as comunidades locais ", disse.
Ângela Morgado disse que é preciso criar uma nova geração de líderes ambientais, algo que a WWF Portugal já está a fazer também.
O dia 3 de março foi proclamado pela ONU como Dia Mundial da Vida Selvagem em 2013 para assinalar os 40 anos da adoção da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES), aprovada a 3 de março de 1973.
O dia que hoje se comemora pretende destacar a importância das espécies de animais e plantas selvagens.
A WWF (em português Fundo Mundial para a Natureza) foi fundada em 1961 e é hoje uma das maiores e mais respeitadas organizações independentes de conservação, com mais de cinco milhões de apoiantes e uma rede ativa em mais de 100 países.
Tem com missão travar a degradação da natureza e construir um futuro em que o uso dos recursos naturais seja sustentável.
Leia Também: Organização WWF tem a partir de hoje escritório em Portugal