Luís Montenegro falava na abertura no debate preparatório do Conselho Europeu, cerca de uma semana depois da demissão do Governo, provocada pelo chumbo de uma moção de confiança apresentada pelo executivo minoritário PSD/CDS-PP.
"Nesta altura, competitividade significa também melhor posicionamento geopolítico (...) É a partir da competitividade da nossa economia que se vai projetar toda a dinâmica do quadro geopolítico e mesmo da repercussão na qualidade de vida dos cidadãos, na dinâmica dos Estados-membros", defendeu.
O primeiro-ministro defendeu que "a Europa tem de ser rápida" e responder "com políticas que promovam um crescimento coeso de todo o seu espaço, de modo a poder afirmar-se no contexto internacional como um bloco comercial competitivo, com capacidade produtiva, com capacidade de poder ombrear com os outros blocos comerciais na conquista de mercado".
Com este objetivo, Montenegro apontou três desafios, começando pelo da simplificação.
"Nós precisamos de uma economia, de uma relação entre os cidadãos, as empresas e a administração menos complexa e, por via disso, mais indutora de capacidade transformadora. Não podemos ombrear no mercado internacional com outras geografias onde as exigências e a complexidade são menores e, por via disso, os processos produtivos são mais ágeis e tornam a capacidade produtiva mais eficiente", afirmou.
Como segunda prioridade apontou a área energética, considerando que a Europa "não pode ficar a queixar-se de ter pouca autonomia e ter um custo energético que é quatro, cinco vezes superior a outros blocos comerciais, em particular o americano, e não fazer nada quanto a isso".
"Parece que continua tudo na mesma e nós não conseguimos explorar a capacidade produtiva que temos dentro de nós", afirmou, salientando que é um problema que afeta especialmente a Península Ibérica.
Finalmente, o primeiro-ministro defendeu a união das poupanças, a união bancária e a união financeira "como traves-mestras de uma capacidade de financiamento" da União Europeia.
"Não podemos assistir, impávidos e serenos, a que as poupanças europeias ajudem o dinamismo económico, por exemplo, dos Estados Unidos da América, em vez de ajudarem o financiamento das pequenas e médias empresas europeias para poderem ser mais competitivas", alertou.
Mais à frente, em resposta ao Chega, o primeiro-ministro afirmou que a Europa não tem "uma possibilidade de afirmação que não seja como um bloco", a nível político, económico, e nas áreas de segurança e defesa.
Já em resposta à IL - que disse que "Portugal é um país a atrasar-se dentro de uma União Europeia que também se atrasa no mundo" e alertou para um excesso de regulação que afeta as empresas - Luís Montenegro considerou que a União Europeia perde competitividade porque cria "barreiras ao aproveitamento desse potencial", uma delas "o excesso de regulação, de complexidade".
O chefe de Governo disse que é "mesmo obrigatório ter a coragem de cortar na regulamentação" e assinalou que a presidente da Comissão Europeia "está muito sensibilizada para isso", mas ressalvou que "será muito difícil que sejam aqueles que a fizeram os executores da sua eliminação".
"A Europa não terá capacidade de autonomia estratégica na sua economia se ficar nas mãos dos Estados Unidos e da China, por exemplo, no âmbito da inteligência artificial, no âmbito do desenvolvimento tecnológico que dimana desse instrumento", defendeu o primeiro-ministro, considerando que os Estados-membros não têm feito um investimento suficiente e Portugal está "a fazer um investimento à escala" do que pode fazer.
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