Especialistas alertam para perigos do consumo de "gás do riso" nos jovens

Especialistas alertam para os perigos do consumo recreativo de óxido nitroso entre jovens, avisando que o acesso fácil a esta substância proibida e considerada inofensiva por muitos pode causar graves danos à saúde, como lesões pulmonares e neurológicas.

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Lusa
22/03/2025 08:13 ‧ ontem por Lusa

País

óxido nitroso

Embora o uso do "gás do riso" seja frequentemente associado a festas e festivais, especialistas destacaram à agência Lusa a falta de consciencialização para as consequências a longo prazo do seu consumo e defenderam ações de prevenção nas escolas e nas famílias.

 

Conhecido como "gás do riso", o óxido nitroso tem sido associado a vários problemas de saúde, incluindo envenenamentos, queimaduras e lesões pulmonares e, em alguns casos de exposição prolongada, lesões neurológicas.

Pediatra na Unidade de Adolescentes da Unidade Local de Saúde São José, no Hospital Dona Estefânia, Margarida Alcafache salientou que é preciso sensibilizar para os riscos desta prática, para que "os jovens não passem entre si a ideia de é um consumo inócuo".

Também é importante alertar os pais para a existência do consumo do gás nitroso que, segundo um relatório do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, tem registado nos últimos anos uma crescente utilização pelos jovens em contexto recreativo.

"Eu acho que a maior parte dos pais em Portugal não têm noção de que existe o uso desta droga de forma recreativa" e, por parte dos jovens, "há uma ausência de noção do que realmente estão a fazer", salientou.

Para Margarida Alcafache, o consumo do "gás do riso" parece ser algo que virou moda, além de ser "barato, de fácil acesso e com a ideia entre os jovens de que não tem consequências".

"A mensagem importante a passar é que claramente tem consequências, nomeadamente em jovens que estão em desenvolvimento", salientou, defendendo que devia haver mais controlo sobre a venda desta substância psicoativa que é proibida em Portugal, mas é fácil de comprar através da internet, em lojas de conveniência e em supermercados.

"Fiz pesquisas no TikTok (...) e encontrei vídeos de jovens dentro de carros a inalar óxido nitroso e a ser partilhado nas redes sociais como se fosse uma coisa super legal", lamentou.

Tito de Morais, cofundador do projeto Agarrados à Net, disse que o consumo deste tipo de substâncias resulta, muitas vezes, de "desafios virais perigosos em que os miúdos se desafiam uns aos outros para se filmarem a consumir".

Observou que há vídeos, por exemplo, no YouTube para crianças e adolescentes a explicar os riscos de "dar no balão", mas há outros em que jovens se mostram a inalar o óxido nitroso e a filmar os seus efeitos.

"Muitas vezes isso cria cadeias de miúdos que veem isso, acham piada e depois querem fazer a mesma coisa. Não têm é a noção das consequências que daí podem resultar", advertiu.

Daí a necessidade dos pais estarem sensibilizados para os riscos que os filhos correm e falarem com eles para prevenir estas situações, assim como as escolas que devem apostar na formação e sensibilização dos jovens.

A neuropediatra do Hospital Dona Estefânia Rita Silva defendeu que os pais devem estar alerta se os filhos se queixarem de "formigueiro ou notarem que estão com dificuldade em andar, desequilibrados".

"Os jovens não consomem ao lado dos pais. Habitualmente consomem uns com os outros, em festas, festivais", mas quando se torna "quase uma dependência" arranjam forma de o fazer sozinhos para ter a "sensação de euforia" provocada por este gás quando o inalam, recorrendo a latas, como de 'chantilly', ou balões com o produto no seu interior.

Rita Silva relatou que "há miúdos com um risco mais elevado" de dependência deste tipo de substâncias, nomeadamente jovens com "insucesso escolar, com determinadas perturbações de saúde mental, que estão mais ansiosos, ou deprimidos, ou descontentes com a escola".

"São miúdos em que isto é mais apetecível quando a realidade não é tão boa assim e estar por um bocadinho fora dela é bom", comentou.

A psicóloga Andreia Ribeiro, do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD), contou, por seu turno, que acompanhou um jovem que teve de ficar internado com lesões pulmonares devido a um consumo mais intensivo de óxido nitroso.

Alertou também para um conjunto de alterações comportamentais dos jovens ao nível do humor, da capacidade de cumprimento de tarefas, da relação interpessoal a que os pais devem estar atentos.

"Há até reporte de alguma possibilidade de asfixia acidental, pelo tipo de consumo e da inalação que é feita, mas, felizmente, é muito rara e, portanto, pouco frequente o risco de morte, embora, esta desorientação pode muitas vezes estar na origem de acidentes que podem combinar com efeitos mais graves e até mais letais", alertou.

Andreia Ribeiro salientou que o ICAD dispõe de respostas a nível nacional de apoio individual que devem ser divulgadas para que "os jovens tenham um acesso mais direto quando precisam de ajuda e quando começam a ter já algumas complicações relacionadas com a utilização desta substância e de outras".

Leia Também: Jovens com lesões neurológicas graves por inalarem "gás do riso"

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