Moradores da Trafaria vêem oportunidade no terminal de contentores

Os moradores do Bairro 2º Torrão na Trafaria, em Almada, vão ser os vizinhos do novo terminal de contentores anunciado pelo Governo e vêem no projecto uma oportunidade para conseguirem deixar "as péssimas condições" do bairro.

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Lusa
24/02/2013 11:51 ‧ 24/02/2013 por Lusa

País

Almada

"Se for para o bem da população, o novo terminal é bem-vindo, mas, como já estamos habituados a não ser beneficiados, depende. Estamos todos de acordo em sair daqui, pois o bairro está péssimo", disse à agência Lusa Rogério Nazaré.

O presidente da Associação de Moradores do Bairro 2º Torrão deixou críticas à presidente da Câmara de Almada, Maria Emília de Sousa, referindo que não tem feito nada pelos moradores do bairro, que fica junto ao local onde vai ser construído o novo terminal de contentores.

"Acho graça quando a presidente da Câmara diz que vão estragar o património, quando não faz nada pelas pessoas que vivem cá. Nós, que sempre fomos penalizados, estamos de acordo com o terminal, pois é a forma de conseguirmos sair daqui o mais rápido possível", defendeu.

Rogério Nazaré, que reside no bairro há 23 anos, afirmou que vivem no bairro cerca de 3.500 pessoas, num espaço com habitações de pescadores e que ao longo dos anos cresceu para um bairro clandestino.

"Temos problemas de luz, esgotos e água canalizada e vivemos com ratos e pulgas e ninguém faz nada. Há males que vêem por bem, pois de outra maneira não nos vemos a sair daqui", defendeu.

Osvaldo Gaspar também reside no bairro e afirma que já que o Governo quer montar o terminal de contentores na Trafaria, tem que retirar as pessoas do bairro.

"O Governo decidiu que tem que se montar o porto na Trafaria e penso que a população não se pode manter como vizinha de um porto. Concordo com a saída do pessoal daqui e montar um porto, pois também vai gerar emprego para a população da Trafaria", defendeu.

"Não podemos é ser vizinhos de um terminal, a morar quase dentro do porto", acrescentou.

José Cleto, da Associação de Moradores da Cova do Vapor, bairro que fica com vista para o novo terminal, explicou que o novo equipamento pode trazer benefícios de desenvolvimento económico, apesar de considerar que fica comprometido o projecto da autarquia.

"Se olhamos para isto como um projecto anti-turismo e anti tudo o que a autarquia disse que queria fazer aqui é mau, mas se olharmos como um polo de desenvolvimento, e a Trafaria tem sido esquecida nos últimos trinta anos, se calhar é menos mau. Depende se vai trazer investimento e algo de novo", disse à Lusa.

José Cleto quer conhecer melhor o projecto que foi apresentado pelo Governo e a sua extensão, mas referiu que a construção de um porto de pesca na Cova do Vapor é uma necessidade imediata.

"O ganho dos portos de pesca é bom porque é uma necessidade premente para os profissionais. Por outro lado, já se sabe que toda a actividade piscatória nestas duas milhas à volta da Trafaria vai ficar comprometida pelo tráfico marítimo. Sabe-se que vamos ser afectados pelo terminal, agora temos que esperar para ver se será positivo ou negativo", referiu.

Eduardo Ferreira, que tem toda a sua vida e família na Cova do Vapor, refere que os impactos negativos na Trafaria já foram causados, quando se avançou para a construção do terminal da Silopor.

A Lusa questionou a autarca sobre as posições dos moradores dos bairros, mas Maria Emília de Sousa recusou responder.

A população e os autarcas da freguesia da Trafaria e do concelho de Almada reuniram-se no sábado na Sociedade Recreativa Musical Trafariense, onde aprovaram, por unanimidade, uma resolução contra o terminal de contentores, que deve ocupar uma área de 200 a 300 hectares de plano de água e terra.

Todos os que estiveram presentes no encontro, que encheu a sala da sociedade, aprovaram um documento para recurso a todas as instâncias judiciais nacionais e, se necessário, o Tribunal Europeu, bem como o lançamento de uma petição para enviar à Assembleia da República.

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