Mário Gomes-Pereira, investigador do Inserm (instituto nacional de saúde e de investigação médica), em Paris, explicou à agência Lusa que os resultados "vêm mostrar que há, de facto, anomalias importantes moleculares no cérebro e vão guiar [os cientistas] sobre determinadas vias que parecem estar desreguladas".
Esta doença neuromuscular hereditária é a distrofia muscular mais frequente, que passa de pai para filhos, de uma forma cada vez mais grave, e durante muito tempo foi descrita como meramente muscular. No entanto, desde há 10 ou 20 anos "temos percebido que tem uma forte componente neurológica", apontou Mário Gomes-Pereira.
"É importante agora investir no futuro, com mais investigação, para saber que etapas podem ser manipuladas de um ponto de vista terapêutico para trazer melhorias aos doentes", acrescentou o coordenador da investigação já publicada na revista Brain.
A investigação consistiu no estudo do cérebro de ratinhos transgénicos, desenvolvidos em laboratório, para descobrir quais os processos que não se passam da forma correta no sistema nervoso central e que podem servir de base às anomalias de comportamento, ao estado depressivo e aos problemas de aprendizagem registados pelos doentes.
"Os dados apontam para uma disfunção da sinapse nervosa, isto é, da comunicação entre as células no sistema nervoso central, no cérebro, o que poderá ter um grande impacto e serve muito provavelmente de base para as anomalias neurológicas destes doentes", referiu o investigador.