Maria, a mãe coragem de 131 crianças que usa o desporto para as alimentar

Maria tem uma vida dedicada aos outros. Usou o desporto para alcançar os objetivos e dar uma vida melhor às crianças que dependem de si. Agora, contou ao Notícias ao Minuto a sua história.

Notícia

© Fundação Maria Cristina

Inês André de Figueiredo
05/11/2016 09:00 ‧ 05/11/2016 por Inês André de Figueiredo

País

Solidariedade

Maria do Céu da Conceição é portuguesa, tem 39 anos e uma história de vida como poucas. Uma vida de total entrega, dedicação e solidariedade, em que põe os outros à sua frente, numa luta constante para melhorar a vida do próximo, dos outros, daqueles que realmente precisam.

Conhecida como uma força da natureza, Maria criou uma fundação no Bangladesh para combater a pobreza extrema com que se deparou ao chegar ao país.

Hoje, tem 131 crianças a seu cargo, nas quais deposita a esperança de vidas de sucesso, em que a educação é o ponto primordial e onde há mais investimento pessoal.

Mas a história de Maria não começa aqui. Numa vida “de altos e baixo”, a mulher coragem conta que a sua mãe biológica sofria de uma doença mental, o que a fez ficar ao cuidado de uma vizinha que a acabou por adotar. “Era uma refugiada angolana e o seu nome era Maria Cristina. Educou-me e alimentou-me juntamente com os seus seis filhos, pois como dizia, “quem alimenta seis, alimenta sete".

A minha mãe adotiva fez de mim quem sou”, garantiu. Esta gratidão levou até que Maria desse o nome da mãe - Maria Cristina - à fundação que criou. A senhora faleceu quando Maria tinha apenas nove anos e, depois de alguns anos a cargo das filhas mais velhas, sucedeu-se a emigração para a Suíça em busca de melhores condições de vida.

Um acidente de carro nesse país levou a uma mudança brusca. Seguiu-se Londres, um anúncio para hospedeiras de bordo da Emirates Airlines, um emprego “fantástico”, que a fez sentir “abençoada”, e uma viagem que alterou por completo o seu rumo.

“Fiz uma viagem ao Bangladesh e, em vez de visitar o país em turismo, como costumava fazer, fui convidada a conhecer o bairro de lata de Gawair em Daca. Foi então que tudo começou”, começou por contar ao Notícias ao Minuto.

Questionada sobre o que mudou nesse dia, Maria foi perentória: “Tudo!”. “Apercebi-me do nível de pobreza extrema que pode existir e da sorte que tive por nascer onde nasci e ter tido a vida que tive, ainda que muito modesta”, mostrando que o Bangladesh mudou a sua “forma de ver o mundo”.

Na altura, Maria começou por fazer “o que podia”. “Cancelei uma viagem de anos à Nova Zelândia e usei os fundos dessa viagem para dar às pessoas. Ajudei com comida, médico, rendas de casa…”, conta. O contacto fê-la aproximar-se das pessoas, das suas histórias, das suas vidas.

“Passei a usar o meu ordenado para ajudar as famílias de Gawair, com o apoio de pessoas que, entretanto, conheci e com outros funcionários da companhia aérea”. Depois apercebeu-se de que “a única forma de realmente fazer a diferença na vida daquelas pessoas era através da educação”.

Apercebi-me que não conseguiria fazer o suficiente com o meu ordenado"

Assim, Maria tirou uma licença sem vencimento para se dedicar exclusivamente ao trabalho em Daca. “Sendo que a licença acabou por durar até hoje”, recorda com risos.

A mudança não foi fácil mas conseguiu um trabalho com uma empresa do Dubai que permitia trabalhar na fundação e ter um rendimento fixo. Tudo o que fazia não era suficiente e a necessidade levou-a a dedicar-se verdadeiramente ao desporto, transformando-o numa forma de adquirir dinheiro para ajudar as pessoas pelas quais era responsável.

“Nunca fui desportista, o exercício que fazia limitava-se a andar para trás e para a frente dentro do avião e a perguntar às pessoas se preferiam carne ou peixe. Mas quando pesquisei a melhor forma de obter fundos, rapidamente descobri que o desporto era a forma mais direta. Comecei aos poucos, fui treinando e evoluindo, e a cada desafio seguiu-se um novo, cada vez mais avançado”, conta.

Não sabia nadar e aprendeu, tendo, de seguida, tentado atravessar o Canal da Mancha a nado. Depois de dezenas de maratonas sempre a bater recordes, Maria conseguiu fazer 7 Maratonas em 7 Continentes em 11 Dias, 7 Ultra Maratonas em 7 Continentes em 6 Semanas, 7 Ultra Maratonas em 7 Dias Consecutivos e 7 Maratonas em 7 Dias Consecutivos.

Os desafios superavam-se a si próprios, Maria já tem seis recordes do Guinness, foi a primeira mulher portuguesa a chegar ao topo do Evereste, subiu ao Kilimanjaro, fez o Último Grau do Pólo Norte e pretende fazer mais e mais.

O que a faz superar-se a si própria todos os dias? “Motivação. Uma mãe sempre fará de tudo pelos seus filhos. No meu caso, os meus filhos são as crianças de Gawair. Uma mãe com dois ou três filhos que passem necessidade trabalhará dois ou três empregos para poder garantir que eles têm comida, segurança e escola. Eu tenho 600 filhos, portanto para garantir o mesmo, tenho de fazer coisas como subir ao topo do Evereste ou ir até ao Pólo Norte”

Uma mãe faz tudo pelos filhos!

Maria pretende continuar a ajudar estas crianças e garante que desistir não está em causa. “Comprometi-me a ajudar as crianças de Gawair e não desistirei até cumprir a minha promessa. Faltam-nos 131 crianças e a mais nova tem oito anos, e se tudo correr conforme planeado, acabará o 12.º dentro de dez anos”.

“É nessa altura que acaba o meu compromisso com o Bangladesh. Quando lá chegarmos, terei passado 22 anos a fazer trabalho humanitário! Se calhar vou tirar umas férias (riso). Não sei, veremos o que acontece. O futuro a Deus pertence!”

Como recompensa, Maria vê casos de sucesso como o de um senhor que foi educado pela fundação. Após esse impulso, conseguiu um emprego na Emirates Airlines e decidiu abrir uma escola na comunidade de onde saiu, onde já estão a ser educadas 80 pessoas.

“Temos também miúdos que acabaram o 12.º ano e já estão a trabalhar. Temos também miúdos que acabaram de ingressar em universidades na Inglaterra, Canadá e Estados Unidos, todos com bolsas de estudos integrais! São exemplos como estes que fazem tudo valer a pena!”, orgulha-se.

Maria já foi premiada dezenas de vezes, é ‘Cidadão Nobre de Portugal’, ‘Mulher Europeia Mais Excepcional e inovadora do Ano’, ‘Mulher do Ano dos Emirados Árabes’, ‘Mais lnspiradora na GCC da Kraft’, ‘GQ Homem do Ano’, entre muitas outras.

Contudo, a verdadeira inspiração desta mulher passa pelo sorriso nas caras das crianças que tanto precisam de si, pela educação, pelo crescimento saudável e promissor. Um sonho que dificilmente chegará ao fim, mas com que Maria está comprometida a 100%.

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