"As condições de trabalho dos jornalistas" é o tema do painel da manhã de hoje no 4.º Congresso dos Jornalistas e a palavra precariedade surge rapidamente na boca do fotojornalista Rodrigo Cabrita, desde há cerca de um ano a trabalhar em regime 'freelance'.
Para este jornalista, que trabalhou 10 anos na Global Imagens e depois quatro anos no jornal I, as condições de trabalho dos fotojornalistas começaram a degradar-se a partir do momento em que foram dispensando estes profissionais e passando as mesmas funções para os redatores, o que trouxe desinvestimento quer ao nível dos recursos humanos, do material ou do tempo despendido para a execução do trabalho.
"Neste momento, sinto-me um bocadinho como uma prostituta que vai fazendo alguns trabalhos, certamente não retira nenhum prazer deles, mas vai dando para pagar contas", apontou, em entrevista à agência Lusa.
Refere que não há espaço para o trabalho de investigação ou para a reportagem e que, quando há, tem de o fazer às suas custas, defendendo a necessidade de uma chamada de atenção para os fotojornalistas e reclamando que os jornalistas deem voz às suas próprias reivindicações.
"Como freelance sinto-me como um 6 ou 7 em 1 porque eu tenho de ser tudo, comercial, fazer 'marketing', publicidade, sou um bocadinho fotógrafo, depois sou da contabilidade e depois sou cobrador do fraque", exemplificou.
E é como cobrador do fraque que surge "a parte mais dura" e onde sente mais de perto as consequências da precariedade, dependendo da boa vontade de quem paga.
O caso de Cristina Santos é diferente porque depois de 17 anos a trabalhar na redação da rádio TSF, é por sua opção que vai trabalhar para a redação da Antena1, com um contrato de prestação de serviços, ou seja, a recibos verdes.
Conta que cumpre um horário, está inserida numa equipa, tem um chefe, faz fins de semana e feriados, mas depois não tem direito a férias, por exemplo.
"O facto de não ter um vislumbre do que vai acontecer depois de acabar o contrato, em dezembro, coloca-me questões a nível pessoal, na minha própria vida", contou, em declarações à Lusa.
Admite que nunca pensou estar nesta situação ao fim de quase 20 anos de profissão e salientou que há mais pessoas, algumas até mais velhas, que estão a passar pelo mesmo, e que, apesar dos muitos anos de profissão, trabalham em condições precárias.
"À precariedade temos de juntar os baixos salários de malta que está nos quadros e ganha mal. É bom trabalhar com alegria, mas eu não pago contas com sorriso e não quero vender a alma para pagar as contas", critica.
Sente que há um desrespeito em relação ao jornalismo e acredita que se o caminho se mantiver como até aqui, a profissão será feita sobretudo à base de precários.
Opinião partilhada pela presidente do Sindicato dos Jornalistas, para quem a precariedade é a melhor forma de descrever os "vários vínculos tão diferenciados, mas tão frágeis que existem".
"Há um terço dos jornalistas que não tem um vínculo típico do empregado/empregador e se juntarmos a isso os que estão a termos certo, a percentagem ainda sobe quase para metade porque também não são vínculos assim tão fortes como isso", aponta Sofia Branco.
Segundo a responsável, este é um retrato para o qual é preciso olhar e encontrar uma solução "porque estas pessoas não estão protegidas".
Sofia Branco aproveita ainda para alertar para as consequências do jornalismo feito em condições de precariedade: "O trabalho que está a ser feito não é um exercício livre e independente e isso é a missão principal do jornalista".