Veio do céu e sem aviso a tragédia que roubou vidas num dia de praia

Duas vítimas mortais, momentos de pânico e dúvidas sobre o porquê de a aterragem ter sido no areal marcam a tragédia que se abateu na tarde de quarta-feira sobre a praia de São João da Caparica, em Almada.

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Pedro Filipe Pina
03/08/2017 08:30 ‧ 03/08/2017 por Pedro Filipe Pina

País

Almada

O dia era de sol, típico de agosto, com banhistas a aproveitar o bom tempo que se fazia sentir na praia de São João da Caparica. Mas, sem aviso, uma avioneta aproximou-se da praia e percorreu cerca de uma centena de metros no areal, atropelando um homem, de 56 anos, e uma criança de apenas oito anos de idade, antes de finalmente parar.

Foram momentos de pânico os que se viveram, com adultos e crianças a serem surpreendidos com a aterragem de emergência da avioneta, com pessoas a lançarem-se para se tentar proteger à medida que o aparelho se aproximava e avançava pelo areal.

Foi "vinda do nada", sem ruído que servisse de aviso a quem estava no areal, que tudo aconteceu, contou à SIC Enrique Pinto-Coelho, jornalista que se encontrava na praia com o filho. No seu caso, escaparam ilesos. Foi o gesto de pânico de uma pessoa que estava à sua frente que o alertou. A avioneta acabaria por atravessar o campo de futebol improvisado onde momentos antes tinha estado a trocar a bola com o filho.

"Havia espaço na água e o erro deles [os tripulantes] foi tentar aterrar aqui. A praia estava cheia e viveram-se momentos de pânico", relatou por sua vez, à agência Lusa, Célia Rocha, que se encontrava na praia com dois sobrinhos, de 10 e 11 anos, que viram do mar a avioneta "descontrolada" a chegar à praia.

Mas foram também momentos de revolta os que se seguiram à aterragem. No areal, e junto à aeronave, os dois tripulantes viram-se rodeados por um pequeno grupo de pessoas revoltadas. Entre nadadores-salvadores, alguns banhistas, incluindo um atleta do Sport Lisboa e Benfica, e a eventual chegada da Polícia Marítima, evitou-se que o momento tenso e difícil que ali se vivia descambasse em atos irrefletidos de violência.

Está, agora, uma investigação aberta. Os dois tripulantes ficaram com termo de identidade e residência, saindo em liberdade, mas serão esta manhã de quinta-feira presentes a tribunal para conhecer outras hipotéticas medidas de coação.

A tragédia deixa também muitas dúvidas por responder, dúvidas que só o inquérito das autoridades poderá esclarecer.

"Mayday, Mayday, Mayday"

Poucos minutos após a descolagem do aeródromo de Cascais, os tripulantes reportaram uma “falha de motor” à torre de controlo. "Mayday", a palavra de socorro que se pede via rádio quando há uma emergência a bordo, é bem audível nas gravações transmitidas pela SIC. É também claro o aviso que chega da avioneta à torre de controlo: o plano passava por aterrar na praia, nomeadamente na Cova do Vapor, onde o rio Tejo toca o Oceano Atlântico.

A bordo da aeronave, um modelo Cessna 152, seguiam dois homens num voo de treino de navegação com plano aprovado para voar entre Cascais e Évora. Tratava-se de um aluno e de um instrutor sénior, de 56 anos, com "elevada experiência e milhares de horas de pilotagem", afirmou a escola de aviação Aerocondor em comunicado.

Com a chegada das autoridades, rapidamente foi montado um perímetro de segurança. Começaram também as primeiras peritagens. Os corpos das duas vítimas foram cobertos antes de serem levados. Os pais da menina, Sofia de seu nome, como revelou o próprio pai num testemunho revoltado após interromper a emissão em direto da TVI 24, receberam apoio psicológico. Já os dois homens que seguiam a bordo da avioneta foram ouvidos e levados do local pela Polícia Marítima. 

A avioneta, entretanto, já foi recolhida. O comandante Pedro Coelho Dias, porta-voz da Autoridade Marítima Nacional, explicou que esta ficará num hangar. Será analisada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves, que vai tentar perceber a origem do problema técnico. Ao mesmo tempo, decorrerá a outra investigação, a cargo do Ministério Público. E será esta que irá tentar perceber o que levou os pilotos a aterrar de emergência em pleno areal da praia.

Além dos momentos de pânico vivido, os testemunhos transmitidos nas televisões e os relatos feitos nas redes sociais, como os do guionista João Quadros, no Twitter, dão conta também do choque vivido. Hoje, aos poucos, e depois de o acesso ter sido condicionado nas últimas horas de quarta-feira, a vida na praia começará a ser retomada.

Em pleno agosto, com o sol convidativo, o areal de São João voltará a contar com banhistas a mergulhar e crianças a brincar na areia. Falta, porém, perceber o que se passou para que uma avioneta trouxesse dos céus a tragédia que roubou duas vidas numa tarde que deveria ser apenas a de um dia normal de praia.

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