Dia 8 de outubro de 1998 – o dia que distinguiria a literatura portuguesa internacionalmente, com o Prémio Nobel atribuído ao escritor José Saramago.
“José Saramago, que através de parábolas sustentadas pela imaginação, compaixão e ironia torna constantemente compreensível uma realidade ilusória”. Foi assim que a Academia Sueca pronunciou o primeiro e único português vencedor da distinção até hoje.
Dezanove anos depois, os seus livros continuam a ser publicados e traduzidos em mais de 40 línguas, sendo um dos autores de língua portuguesa mais traduzidos.
José de Sousa Saramago, nasceu a 16 de novembro de 1922 - embora no registo conste dia 18 como dia de nascimento - na vila da Azinhaga, Golegã. Foi serralheiro, tradutor, editor, jornalista, fez de tudo um pouco, mas sempre deu à escrita um especial destaque. Desprezou regras de pontuação ajustando a caneta ao discurso oral, o que afastou muitos, mas atraiu outros tantos. Era comunista assumido e sem nunca abdicar da sua identidade, criticava a sociedade e a política por vezes com tom corrosivo e colérico, mas também de forma sarcástica e subtil. Ateu, sempre escolheu como alvo a religião, a Igreja Católica e seus “maus costumes”.
Fez uso da atividade pública que alcançou depois da atribuição do Prémio para reivindicar os Direitos Humanos, de forma a garantir “uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre destrutivas”, explicou na sua autobiografia.
Durante a sua carreira, que se confunde com a sua vida, deixou crónicas, poemas, contos, peças dramáticas, ensaios e romances, género pelo qual é mais conhecido.
Com mais de cinquenta obras publicadas, tudo começou em 1947 com o livro ‘Terra do Pecado’, seguiu-se o ‘Manual de Pintura e Caligrafia’, em 1977, e ao longo dos anos, obras essenciais como ‘Memorial do Convento’, ‘Ensaio sobre a Cegueira’ ou ‘Todos os Nomes’. Responsabilizou-se por contar os episódios de vida do único heterónimo de que Fernando Pessoa se esqueceu de matar com ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’, em 1984, e, em 1991, enfrentou duras críticas com a publicação de ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’, um livro que criticava a religião e o que esta representava, e que depois do veto do governo português à candidatura da obra ao Prémio Literário Europeu, culminou na mudança do escritor e Pilar del Rio para a ilha espanhola de Lanzarote, local onde viveu até à sua morte, em junho de 2010, vítima de uma leucemia crónica.
Por terminar ficou ‘Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas’, que começou a escrever em 2010 e que foi publicado postumamente com o título 'Alabardas', em 2014.
Abaixo recorde o anúncio do Prémio em 1998.