São já mais de mil os signatários da petição dirigida ao ministro da Cultura. Em causa estão declarações recentes da Diretora Regional da Cultura do Centro que deixaram a comunidade artística perplexa.
“Vim aqui a Leiria porque, por incrível que pareça, não me pediram dinheiro. Como é possível? Ainda por cima na área do teatro! Foi algo que me tocou bastante. É uma lição de como um grupo de teatro profissional, com três atores, que se dedica de corpo e alma ao seu trabalho, vive sem pedir dinheiro, não incomoda a administração central”, afirmou Celeste Amaro, Diretora Regional da Cultura do Centro, no passado dia 2 de março.
Tais declarações mereceram a reprovação de profissionais das artes de todo o país, entre os quais responsáveis por dezenas de instituições culturais. Centenas de outros cidadãos repudiam a ideia de que o financiamento público da criação artística seja um “incómodo” para a Administração Central, como a responsável afirmou há cerca de dez dias.
O documento, tornado público na passada quarta-feira, intitulado ‘A propósito das declarações da Directora Regional da Cultura do Centro: apelo ao Ministro da Cultura’, foi já subscrito por mais mil pessoas.
Entre os signatários estão dramaturgos, encenadores, atores, produtores, cenógrafos, técnicos de palco, gestores de equipamentos culturais, artistas plásticos, estudantes e professores do ensino artístico e muitos outros cidadãos sem ligação direta à criação artística.
No texto que dirigem ao responsável pela pasta da Cultura, os signatários consideram estas declarações “inusitadas”, contraditórias “com o espírito e a letra da Constituição e do programa do actual Governo” e “insultuosas” para com “os cidadãos, que são os principais beneficiários das políticas públicas de cultura no nosso país”. Por isso, afirmam que “a Dra. Celeste Amaro não tem condições para continuar no cargo” e apelam ao ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, “para que aja, em conformidade e com urgência”.
"É no mínimo inusitado que uma funcionária do Estado com estas responsabilidades profira tais declarações. Elas ofendem os profissionais que têm trabalhado no serviço público financiado pelo Estado, tentam criar uma clivagem entre estruturas 'subsidiadas' e 'não subsidiadas' e entre profissionais e não profissionais, amesquinham os próprios funcionários do Ministério e as personalidades convidadas para avaliar as candidaturas apresentadas, contradizem o espírito e a letra da Constituição e do programa do actual Governo e – sobretudo – insultam os cidadãos que são os principais beneficiários das políticas públicas de cultura no nosso país", lê-se ainda no texto da petição.
O Manifesto em Defesa da Cultura regista, em comunicado enviado às redações, a disponibilidade entretanto manifestada publicamente pelo ministro da Cultura para responder “com a maior atenção” às questões levantadas pela petição. Mas declara a sua preocupação pelo facto de o mesmo responsável ter afirmado, numa primeira reação, que as declarações em causa não lhe parecem “ter a gravidade que lhes estão a atribuir”. Nesse sentido, o manifesto reitera o conteúdo da petição e pede ao ministro que "atente na representatividade – regional e nacional – da lista de subscritores deste documento".