Numa altura em que se assistem a divergências internas no Livre, Miguel Dias, membro fundador do partido, anunciou, na terça-feira, que vai cortar o 'cordão umbilical' que o liga ao partido. O candidato do Livre pelo círculo de Setúbal nas últimas legislativas, justifica a saída por uma "questão de forma e de postura política" com a qual não se revê. Por sua vez, um porta-voz do partido, em declarações à TSF, recusa-se a confirmar se a saída está relacionada com a polémica.
Miguel Dias anunciou a saída do partido nas redes sociais, onde explicou que esta "não foi uma decisão fácil nem leviana. É emocionalmente complexa a decisão de abandonar o LIVRE, partido" que ajudou "a fundar" e ao qual esteve vinculado durante seis anos. "As razões para a minha saída foram explicadas internamente", vincou.
Esclareceu ainda Miguel Dias que os motivos que estão na base da sua saída "não estão relacionados com conteúdo", porque os seus "valores ideológicos e as ideias políticas continuam a condizer em larga medida com o defendido com o partido". A saída é motivada, isso sim, por "questão de forma e de postura política" na qual não se revê.
Não foi uma decisão fácil nem leviana. É emocionalmente complexa a decisão de abandonar o LIVRE, partido que ajudei a fundar e ao qual dediquei 6 anos da minha vida. As razões para a minha saída foram explicadas internamente.
— Miguel Dias (@NovoCapitulo) November 26, 2019
A TSF falou com Pedro Nunes Rodrigues, porta-voz da direção do Livre, que lamentou a saída do candidato de Setúbal. "Ficamos com alguma pena que o Miguel decida desvincular-se do Livre, mas é uma decisão pessoal", afirmou. "O grupo de contacto [direção] pode apenas agradecer ao Miguel toda a dedicação que deu nos últimos seis anos ao Livre. Foi uma das pessoas mais importantes na dinamização do núcleo do Livre em Setúbal", acrescentou.
Posso adiantar que não estão relacionadas com o conteúdo, pois os meus valores ideológicos e as ideias politicas continuam a condizer em larga medida com o defendido com o partido. Antes com uma questão de forma e de postura política na qual não me revejo.
— Miguel Dias (@NovoCapitulo) November 26, 2019
Pedro Nunes Rodrigues recusou-se a afirmar que a saída de Miguel Dias está ligada à mais recente polémica que tem abalado a estrutura do Livre. "É natural que as pessoas se desvinculem do partido, é a vida política de um partido. Não podemos exigir que qualquer membro permaneça no partido para sempre. Não vamos continuar a alimentar polémicas, portanto, não vamos comentar qualquer caso que seja considerado uma polémica".
Hoje é um dia triste para mim. E equacionei se deveria tornar pública esta minha decisão. Mas por saber que muitos e muitas de vocês me ligam ao LIVRE achei importante fazer este anúncio.
— Miguel Dias (@NovoCapitulo) November 26, 2019
Recorde-se que o conflito interno no partido surgiu da alegada “falta de comunicação” entre Joacine Katar Moreira e a direção do Livre, que terá começado quando a deputada se absteve no momento de condenar Israel pela nova agressão a Gaza.
Perante a situação, o Livre veio a público, através de comunicado, manifestar “a sua preocupação com o sentido de voto da deputada Joacine Katar-Moreira, em contrassenso com o programa eleitoral do Livre e com o historial de posicionamento do partido nestas matérias”.
Ora, Joacine não se deixou ficar e reagiu às declarações do partido: “Assumo total responsabilidade pelo voto e devo dizer que, apesar de a abstenção não constituir um voto a favor ou um voto contra, ela não representou aquilo que tem sido desde sempre a minha posição pública sobre esta temática. Votei contra a direção de mim mesma”.
O caso vai seguir para Conselho de Jurisdição, mas Joacine Katar Moreira viu-se mais uma vez envolvida noutra polémica. A deputada falhou o prazo estabelecido para a entrada do projeto para alterar a Lei da Nacionalidade, uma das bandeiras do Livre. O Parlamento, refira-se, não informou a deputada única do partido sobre o "acordo de cavalheiros" estabelecido na anterior legislatura que fixa um prazo de poucos dias para entregar projetos para serem debatidos com iniciativas do mesmo tema em plenário.
Já depois disso, Joacine, pretendendo evitar questões de jornalistas no Parlamento, pediu para ser acompanhada por um oficial da guarda do Palácio de São Bento. O pedido não foi visto com 'bons olhos' pela Assembleia, sendo que Ferro Rodrigues pediu inclusive que fossem apuradas as circunstâncias do episódio.
Ao Notícias ao Minuto, o secretário-geral da Assembleia da República, Albino Azevedo Soares, afirmou que "não estava em causa a segurança física". O pedido da equipa de Joacine não se justificou, vincou o responsável.