Está confirmado o confronto entre o atual presidente do PSD e o ex-líder parlamentar, Luís Montenegro, numa segunda volta na corrida à liderança do partido. Numa situação inédita na estrutura social-democrata, o ex-presidente da Câmara do Porto falhou a vitória, este sábado, por uma questão de décimas, e a eleição interna prolonga-se.
De acordo com declarações prestadas aos jornalistas no final da noite eleitoral por Nunes Liberato, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, Rui Rio conquistou 49,44% (15301 votos), Luís Montenegro alcançou 41,26% (12767 votos) e Miguel Pinto Luz arrecadou 9,3% (2878 votos). O responsável informou ainda que, dos 40604 militantes aptos a votar, apenas 31306 é que foram às urnas. Estas eleições ainda contaram com 219 votos em branco e 141 nulos.
Estas foram as nonas eleições diretas no PSD, sendo que é a primeira vez que os sociais-democratas seguem para uma segunda volta, apesar de a regra ter sido inscrita nos estatutos há oito anos.
Os militantes são chamados ás urnas, novamente, no próximo sábado, dia 18 de janeiro.
Rui Rio, que assumiu a presidência do partido em fevereiro de 2018 após ter derrotado Pedro Santana Lopes em eleições diretas, já defrontou uma vez Luís Montenegro. O economista foi desafiado a ir a eleições diretas ainda não tinha cumprido um ano enquanto presidente partidário. Rio sobreviveu, acabando por derrotar também o ex-parlamentar de Passos Coelho.
Se fosse pelas antigas regras...
Rui Rio foi o últimos dos três candidatos na corrida à liderança do partido social-democrata a reagir aos resultados desta noite eleitoral. O atual presidente do PSD afirmou que encara a sua vitória como "expressiva" e como "um fator de orgulho" e pediu ainda "mais um esforço" aos militantes alertando para a importância de se dirigirem, novamente, às urnas no próximo dia 18 de janeiro, para a segunda volta destas eleições internas.
Na sede de campanha da candidatura no Porto, o ex-presidente da Câmara recordou que esta é primeira vez que se realiza uma segunda volta em eleições internas do partido. "Pelas regras antigas isto estava arrumadíssimo", disse num tom de brincadeira.
Ainda assim, o dirigente olhou para esta vitória como uma um resultado "expressivo" e um fator de responsabilidade.
"O facto de confiarem em mim acresce a minha responsabilidade", garantiu.
Ainda sobre a sua vitória, Rui Rio sublinhou que quem lhe confiou o voto o fez por convicção e não por interesse pessoal. "Não negociei um único lugar", sustentou, acrescentando que a mesma política será seguida "na segunda volta".
Sobre os seus adversários, o presidente partidário revelou que já tinha recebido os parabéns tanto de Miguel Pinto Luz como de Luís Montenegro.
"Até devia estar chateado com Pinto Luz, que me obrigou a ir a uma segunda volta, mas eu perdoou-lhe, não levo a mal", disse continuando com um discurso claramente bem-disposto.
Montenegro também não foi esquecido: "Depois de ganhar não conto com Miguel Pinto Luz e os seus apoiantes, conto com Miguel Pinto Luz e com o Luís Montenegro e com os seus apoiantes. Conto com todos, não só com aquele que não vai à segunda volta", afirmou o dirigente fazendo alusão às palavras do ex-líder parlamentar, que disse que contava apenas com Pinto Luz. Rui Rio não respondeu ao desafio deixado momentos antes por Montenegro, sobre a realização de um debate televisivo, durante a próxima semana.
Montenegro: "Para mim, Rio não é adversário"
Luís Montenegro foi o segundo candidato a líder do PSD a falar aos jornalistas, na noite de sábado, depois de ficar decidida a segunda volta da auscultação social-democrata.
Num tom conciliador, Montenegro dirigiu uma saudação ao "companheiro Rui Rio": "Para mim, Rui Rio não é adversário, é um militante de quem divirjo na estratégia que quero para o futuro". No que diz respeito a Miguel Pinto Luz, o antigo líder parlamentar referiu que deu "um contributo muito positivo para esta eleição" e foi ainda mais longe: "Se eu for eleito líder do PSD, contarei com ele para os desafios políticos e partidários que teremos de enfrentar".
Sobre os resultados desta primeira volta das eleições internas: "Hoje foram mais os militantes que votaram na mudança do que os militantes que votaram na continuidade", adiantou, fazendo referência ao facto de Rui Rio ter falhado a maioria (49,44%).
"Vou disputar esta segunda volta com três grandes preocupações: unidade, clarificação e ambição", disse. Sobre a clarificação: "O meu verdadeiro adversário é António Costa e é o PS", indicou.
Antes de se despedir, deixou um desafio. "Quero fazer um convite a Rui Rio: um debate televisivo na próxima semana. É essencial para ajudar os militantes a tomar uma decisão final e não podemos fugir à responsabilidade de debater o futuro do PSD e, sobretudo, o futuro de Portugal".
"Humildemente..."
"Quero humildemente dizer-vos que não ganhámos e dar, desde já, os parabéns a Rui Rio e Luís Montenegro", declarou Pinto Luz, o primeiro candidato a falar aos jornalistas na noite eleitoral.
Entre o bater de palmas de militantes, lembrou que apesar da derrota, a sua campanha marcou a diferença. "Marcámos a diferença pelo nosso reformismo, pelo nosso inconformismo permanente. Pelo nosso arrojo, pela nossa agenda, pelas nossas prioridades", sustentou.
Contudo, lembrando que partiu para estas eleições com "expectativas modestas", Pinto Luz ressaltou que surpreendeu "todos", mesmo aqueles que tentaram a todo o custo uma bipolarização nestas eleições".
"O resultado de hoje é claro: chagámos aos 12%! 12% dos militantes do PSD disseram que queriam um modelo diferente, de uma forma diferente fazer política", declarou.
O número dois de Carlos Carreira defendeu também que com esta campanha, conseguiu "com a força das ideias" recuperar "muitos homens e muitas mulheres que estavam afastadas do PSD".
Convicto de que o partido laranja "construirá uma alternativa para Portugal", Pinto Luz não deixou de apontar o dedo ao partido socialista afirmando que o PSD é "o instrumento de mudança que Portugal precisa" e a única "alternativa ao modelo socialista", que se se "afastou do mundo moderno". "É contra isso que lutámos é contra isso que temos de lutar", acrescentou.