A remoção de confiança a Joacine Katar Moreira pode ser o "suicídio político de um partido com base em razões procedimentais e de feitio de pessoas", afirmou Ricardo Sá Fernandes, membro do Conselho de Jurisdição (CJ) do Livre e redator do parecer emitido por altura do primeiro conflito entre Joacine Katar Moreira e a cúpula do partido.
O militante foi ouvido pelos jornalistas à entrada para o IX Congresso do partido, em Lisboa, onde, para além da eleição da nova organização interna, será discutido a resolução da Assembleia do partido sobre a retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira.
A resolução será discutida esta manhã de sábado, decidindo-se depois se é ou não votada na hora. Joacine Katar Moreira terá um período determinado de tempo para apresentar a sua defesa, segundo apurou o Notícias ao Minuto, numa decisão aprovada pela presidente da Assembleia, Ana Natário, já depois do anúncio da resolução do partido.
À entrada para o Congresso, Joacine Katar Moreira garantiu aos jornalistas que a renúncia está "fora de questão", sem tecer mais comentários. A deputada afasta, assim, a hipótese de sair da Assembleia da República, o que deixaria o partido sem representação parlamentar quatro meses após as eleições.
"A política tem que ter mais grandeza", defendeu Ricardo Sá Fernandes, acrescentando que "é preciso ver mais longe" e que a forma como a situação evoluiu o "entristece". O advogado, que foi redator do parecer sobre o conflito entre Joacine e o Grupo de Contacto, referiu que não tem falado com a deputada única do Livre. "Não tenho falado com Joacine Katar Moreira. Falei com ela durante cinco horas quando fiz o relatório. [...] Havia desentendimentos, claro que senti vontade da parte dela de os superar", disse.
Ricardo Sá Fernandes, que já tinha descrito a resolução da Assembleia a pedir a remoção da confiança à deputada como "injustiça democrática", disse ainda que existe uma outra moção a pedir um curso de ação alternativo e que vai apoiar esse texto, não divulgando qual o seu título ou autor, mas referindo que advoga "no sentido de não se decidir hoje qualquer retirada de confiança".
"Esta rutura pode ser o suicídio do Livre e eu estou aqui hoje para ver se evito que esse suicídio aconteça", continuou Sá Fernandes, apontando as diferenças entre Grupo de Contacto e deputada a "cultura de pessoas" ou "irritação". "Não vejo nenhuma divergência de fundo, nenhuma razão para que o partido provoque esta rutura, que será terrível para a sua vida futura. Não é boa nem para o partido nem para Joacine".
Discussão sobre postura de Joacine não é unânime
Soube-se cedo qual seria o principal tema em cima da mesa para este IX Congresso do Livre quando se noticiou uma moção intitulada 'Recuperar o Livre, resgatar a política', que pede a Joacine Katar Moreira para renunciar ao seu mandato. Caso isso não aconteça, o texto, assinado por cinco militantes que não pertencem ao Grupo de Contacto, pede, precisamente, que lhe seja retirada confiança política.
Existem, porém, outros textos, como o intitulado 'Um compromisso do Livre com as lutas emancipatórias', assinado por João Faria-Ferreira, mas sem signatários. Esta moção tece várias críticas ao Livre no que diz respeito à relação com a sua deputada única. "O escrutínio, por vezes injusto e tendencioso, da parte da comunicação social, e a divulgação de notícias falsas nas redes sociais, não foram alvo de um repúdio e condenação sérios da parte do partido", pode ler-se.
As 18 moções específicas que irão ser votadas neste Congresso incluem, ainda, o texto intitulado 'Pensar o partido' e a sua organização interna, que sugere uma avaliação das dinâmicas dos seus órgãos, incluindo a do Grupo de Contacto. Este texto, que questiona "algum experimentalismo" do Livre, foi subscrito por Miguel Won, candidato à Assembleia.
Em 2019, nas eleições legislativas, recorde-se, o partido elegeu pela primeira vez uma deputada para a Assembleia da República, Joacine Katar Moreira, que obteve 1,09% na votação global, o que equivale a cerca de 57 mil votos.