No comício dos 99 anos, em que lançou o programa de comemorações, até 2022, do centenário de um "partido comunista digno desse nome", Jerónimo de Sousa afirmou a milhares de militantes e simpatizantes no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, que a situação do país é má e há "graves problemas económicos e sociais" e "profundos défices estruturais que estão na origem da grande dependência do país" do exterior.
Problemas que, exemplificou, "se manifestam em insuficientes níveis de crescimento económico", em "profundas desigualdades sociais, na degradação dos seus serviços públicos" e são "inseparáveis de uma política que, ao longo de décadas, tem servido os interesses do grande capital e submetido o país às imposições da União Europeia e do euro".
"E continuam sem encontrar resposta nas opções do Governo do PS", acusou, num discurso em que apontou críticas ao executivo socialista de António Costa, ao longo de várias páginas de discurso.
Ainda que o Governo e o PS tenham sido o alvo, Jerónimo não referiu uma só vez o nome de António Costa.
O PS foi, resumindo, responsável, com o PSD e o CDS, pela "recuperação capitalista" após o 25 de Abril, "ao serviço do grande capital", não deu resposta aos "problemas prementes" do país, como na área da saúde, educação, transportes ou habitação, ou por "manter intocáveis os grandes rendimentos e o património de valor elevado", pouco ou nada fazendo para permitir "uma cada vez maior concentração da riqueza, por via fiscal ou de fundos públicos e comunitários".
E por muito que o Governo afirme ser possível compatibilizar "o cumprimento dos ditames da União Europeia e do euro com a solução dos problemas nacionais", a evolução do país "está aí a desmenti-lo", sustentou o líder comunista dando depois mais exemplos, dos "baixos níveis de investimento público" à "deterioração das balanças externas" ou ainda o "crescente domínio do capital estrangeiro sobre setores estratégicos da economia nacional".
"Não é possível continuar a iludir que a solução dos problemas nacionais não encontra resposta com a atual política e com o atual quadro de constrangimentos", concluiu, insistindo nas críticas à "obsessão pelo défice" do PS.
A exceção, mas ainda assim "limitada" nos seus efeitos, aconteceu de 2015 a 2019, quando o PCP assinou um acordo de incidência parlamentar com o PS (um acordo repetido com o BE e PEV) e permitiu um governo minoritário socialista, liderado por Costa, e que não se repetiu após as legislativas de 2019.
"Com o nosso importante e decisivo contributo foi possível, nos últimos quatro anos, travar o rumo de desastre nacional que vinha sendo imposto, defendendo, repondo e conquistando direitos que foram a verdadeira base do crescimento económico, da criação de emprego e aumentar as receitas fiscais e da Segurança Social", disse.
No Orçamento de Estado de 2020, em que o PCP se absteve, foram conseguidos alguns avanços, na terminologia do PCP, de que Jerónimo deu os exemplos dos aumentos das reformas.
"Não fosse o PCP, nem metade do que se conseguiu teria sido alcançado", afirmou.
Para os comunistas, a solução deve ser uma "política patriótica e de esquerda, em rutura com a política de direita, por uma democracia avançada, pelo socialismo e o comunismo".
No seu discurso, Jerónimo de Sousa previu um ano "muito intenso", pediu "mais ímpeto" na "luta de massas", "ação reivindicativa" nas empresas e nas ruas e "a máxima atenção" aos militantes para preparar o congresso do partido.
Porque exige-se valorizar "a luta dos trabalhadores", a ação dos deputados na frente parlamentar, na "resposta aos compromissos" do partido com os eleitores, na defesa dos "direitos laborais" ou na revogação do "balcão dos despejos".
"Exige ainda que se dinamize com mais ímpeto a luta de massas", disse, saudando depois as ações, realizadas e a realizar, da CGTP-IN.
Sobre o XXI Congresso de novembro, nada adiantou sobre mudanças ou futuras lideranças, embora tenha sublinhado a importância do processo, agora iniciado, de debate interno sobre as teses, que depois se transformarão na resolução política no congresso de novembro, em Loures.
É, afirmou, a "concretização da ampla democracia no funcionamento" do PCP, em que os militantes "são chamados, não a escolherem uma trincheira em lutas fratricidas para decidir quem é o chefe, mas a dar a sua opinião e o seu contributo" para a "orientação do partido".