Em declarações à agência Lusa, a líder do grupo parlamentar do PAN salientou que esta pandemia constitui uma "oportunidade de repensar aquilo que deve ser o projeto europeu" porque a covid-19 "vai afetar todos os por igual e, ou existe de facto um espírito de união e de solidariedade, ou então não vai ser cada estado por si só que vai ser capaz de dar resposta à crise pandémica".
"Há aqui, de facto, um papel que a União Europeia [UE] pode ter que é fundamental para ajudar os estados-membros, nomeadamente em relação àquilo que possa ser um financiamento direto, sobretudo em razão daquilo que vai ser o impacto económico para as empresas e para as famílias", assinalou Inês Sousa Real, considerando que a UE tem "tardado em dar essa resposta".
Se existe "liberdade de circulação de pessoas e bens" e "um projeto comum em termos económicos e mercantis", não é possível "continuar a ignorar que há aspetos humanitários a ter em consideração e que neste momento o vírus não olha à dicotomia que tem marcado a União Europeia", salientou.
Para o PAN, as conclusões do Conselho Europeu de quinta-feira "não chegam" porque são necessárias "medidas mais incisivas, sobretudo a nível do apoio às empresas, de canalizar os fundos europeus para essa intervenção".
"A hipótese dos 'eurobonds' não ser descartada, vai ter de ser se calhar necessário emitir dinheiro europeu e, portanto, achamos que não deve ser encarado levianamente aquela que é a necessidade de uma resposta mais musculada por parte da União Europeia", acrescentou.
Sobre as declarações do primeiro-ministro - que na quinta-feira qualificou de "repugnante" e contrária ao espírito da UE uma declaração do ministro das Finanças holandês pedindo que Espanha seja investigada por não ter capacidade orçamental para fazer face à pandemia -- a líder parlamentar d PAN rejeitou que António Costa "tenha sido muito duro, pelo contrário".
"É de facto uma irresponsabilidade absoluta aquilo que foram as declarações do ministro holandês relativamente a Espanha", frisou, apontando que se avizinha "uma recessão económica por um fator" que é "completamente alheio e que não é culpa de ninguém", sendo uma "situação que atinge todo o globo".
Por isso, Inês Sousa Real questionou: "Que moral têm os estados do norte, que foram sempre um bocadinho mais abastados e que viveram sempre num maior conforto económico do que os estados do sul, para depois virem criticar e dizer que tem de haver um escrutínio às nossas contas?"
A deputada do PAN aproveitou ainda para alertar para a situação dos refugiados que se encontram em território europeu, notando que a UE está na "iminência de uma crise humanitária como nunca".
"Se a Europa não souber dar resposta a este desafio, enquanto humanidade vamos todos perder um bocadinho", alertou ainda.
Os chefes de Estado e de Governo da UE acordaram na quinta-feira uma declaração na qual "convidam" o Eurogrupo a apresentar dentro de duas semanas propostas que tenham em conta os choques socioeconómicos sem precedentes causados pela pandemia de covid-19.