Em entrevista ao semanário Expresso, hoje divulgada na íntegra, António Costa afirma, por outro lado, que o plano de recuperação da economia depois da pandemia de covid-19 "tem de assentar num fortíssimo plano de investimento", apontando áreas como a ferrovia e os hospitais, e "um programa de emprego que permita absorver muita da mão de obra que ficou disponível", quer na área do emprego público, quer social.
"Tínhamos enormes queixas na construção de falta de mão de obra, creio que é um problema (por más razões) que já não haverá. Temos o programa de reestruturação da floresta, que implica mão de obra intensiva, porque temos os incêndios a seguir. Temos também a necessidade de reforçar muito as condições de apoio pessoal, porque ficou manifesta a fragilidade de recursos humanos de muitas instituições de solidariedade social", exemplificou.
O primeiro-ministro reiterou que "o país não precisa de austeridade", e sim relançar a economia, mas recusa dar uma resposta definitiva sobre esse caminho: "Já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir".
Sobre a reabertura da sociedade no final do próximo período de emergência, que vigorará até 2 de maio - data escolhida para evitar que o fim de semana prolongado do 1.º de maio não seja "mais um momento de risco" -, o primeiro-ministro recorda que a 28 de abril haverá nova reunião entre representantes políticos e a equipa de cientistas que trabalha para a Direção Geral de Saúde (DGS).
"O que gostaríamos era de, no Conselho de Ministros de 30 de abril, poder anunciar o calendário e o programa de desconfinamento progressivo de um conjunto de atividades que têm a ver com o sistema de ensino, com as atividades comerciais e de restauração e com as atividades culturais", afirma.
Questionado se ainda poderá haver algum tipo de reabertura em abril, Costa não o exclui: "Assim que seja possível, tomaremos as primeiras medidas. Não vamos estar a atrasar medidas".
Quanto à frequência de praias neste verão, o primeiro-ministro admite que possam existir restrições, pelo menos naquelas em que já costuma existir uma grande aglomeração de pessoas.
"A aglomeração não vai poder existir. As autarquias e as capitanias vão ter de tomar as medidas necessárias para que possamos ir à praia sem que se verifique uma aglomeração", afirmou.
Ao Expresso, Costa retoma o 'roteiro' de reabertura que tinha traçado na Assembleia da República e que, na economia, começará pelo pequeno comércio e, no sistema educativo, pelas creches - explicando que é um universo que não se sobrepõe com um eventual recomeço das aulas presencias do 11.º e 12.º anos -, e avisa que nas escolas e transportes públicos "vai ser obrigatório o uso de máscara comunitária".
O primeiro-ministro aponta para junho o regresso ao trabalho - e mesmo assim de forma desencontrada em termos de horários e semanas - e, na cultura, não se compromete com uma data para a realização de grandes festivais, reiterando que será mais fácil reabrir os equipamentos com "lugar marcado".
"Num cinema, a lotação é restrita, os lugares passam a ser todos marcados, só podem vender bilhetes de duas em duas filas, de três em três cadeiras", exemplificou.
Sobre o regresso dos campeonatos de futebol, Costa admite que seja possível concluí-los "à porta fechada ou só com os lugares cativos distribuídos pelo estádio"
Questionado se a região Norte, onde se registam mais casos de covid-19, poderia ter um desconfinamento mais tardio, responde: "Não gostaríamos de fazer diferenciações regionais".
O primeiro-ministro rejeita igualmente que possa haver uma vigilância das pessoas por meios eletrónicos, admitindo apenas que os cidadãos possam descarregar, voluntariamente, aplicações que servem para partilhar "avisos entre os próprios e sem intervenção de autoridades".
António Costa frisa que as medidas serão tomadas de forma gradual e medido o seu impacto na evolução da covid-19 para "não correr o risco de ter de reverter os passos", embora sem excluir esse cenário: "A primeira prioridade foi conter a pandemia sem matar a economia. A nova prioridade que temos agora é a de reanimar a economia sem deixar descontrolar a pandemia".
A nível político, Costa destaca o "enorme consenso político e social" que tem existido no país, recusa qualquer dessintonia com o Presidente da República quanto a este último decreto sobre o estado de emergência e deixa uma palavra de "reconhecimento pela postura" do líder do PSD, Rui Rio.
Sobre o Conselho Europeu que se realiza em 23 de abril, António Costa espera que sejam dadas respostas claras ao problema global da pandemia
"Vamos ou não ter um fundo de recuperação? Como vai ser esse fundo? Vai ser integrado no próximo quadro plurianual? Vai ser financiado por reforço das transferências, por emissão de dívida da UE, por um reforço dos recursos com a criação de novas taxas?", elenca.