Ana Gomes considera que, naquela manhã na Autoeuropa, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa protagonizaram uma "troca de apoios", quando o Presidente da República apoiou a posição do primeiro-ministro na questão do Novo Banco, "tirando o tapete a Centeno", e Costa, por sua vez, apoiou o relançamento da candidatura do chefe de Estado a um segundo mandato.
Comentando o tema na SIC Notícias, a ex-eurodeputada socialista disse que o "episódio é lamentável". "É deprimente, mesmo", vincou.
"Nunca se viu o lançamento de uma recandidatura de um Presidente da República ser anunciado numa fábrica de automóveis, por alguém que não estava sequer na qualidade de dirigente partidário mas na de primeiro-ministro, e num contexto em que o Presidente da República tinha acabado de se ingerir, de forma bastante criticável, nos assuntos internos do Governo", apontou Ana Gomes, afirmando estar "muito preocupada" pelo seu partido e pela democracia.
"Penso que isto mudou muita coisa, para dar muita preocupação a toda a gente e aos democratas no nosso país em particular (...) A democracia não está suspensa, disse e bem o primeiro-ministro a propósito do estado de emergência, mas parece que alguns pensam que está suspensa no PS", sublinhou.
Prosseguindo, disse: "É grave e faz-nos refletir. Um candidato do regime vai polarizar. No fundo, isso vai facilitar a vida dos extremos e num momento em que temos aí a extrema-direita organizada ao ataque".
Ana Gomes recordou que sempre defendeu que o PS de "devia ter um candidato próprio" e que sempre afirmou não ser candidata. "Mas acho que nós, todos os democratas, temos que refletir nas implicações do que se passou, nas implicações que vai ter na democracia", disse.
Questionada sobre se admite avançar, Ana Gomes atirou: "Admito refletir. É isso que vou fazer. Acho que todos os democratas temos que refletir. Tem consequências haver um candidato do regime faz o jogo da extrema-direita, é muito perigoso para a democracia". Todavia, ressalvou que não é candidata e não tem a ambição de ser. "Mas o que se passou é tão grave, com tantas implicações para a democracia (...)", reforçou.
"Eu fico muito preocupada pelo meu partido e pela democracia. E acho que muitos portugueses do centro-esquerda, da esquerda e da própria direita democrática estão preocupados - porque isto tem repercussões, obviamente, para o PSD", disse ainda.
Ana Gomes criticou também o presidente do PS, Carlos César, pelas suas declarações ao jornal Público, em que remeteu o congresso previsto para este ano para depois das eleições presidenciais, acusando-o de falar com "uma leviandade paternalista insuportável".
Nas últimas eleições presidenciais, realizadas em 2016, em que o antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com 52% dos votos, houve dois candidatos da área política do PS, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, e o partido não declarou apoio oficial a nenhum.