"<span class="news_bold">Terminamos hoje [dia 8 de julho] uma experiência de vários meses, iniciada no final de março em pleno estado de emergência". A frase foi proferida pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, no final da décima, e última, reunião sobre a evolução da Covid-19 em Portugal, no Infarmed.
Sem querer "fazer profecias sobre o que será necessário em termos de futuros encontros como este", o chefe de Estado fez um balanço destas dez sessões, que se realizaram por iniciativa do primeiro-ministro, António Costa, afirmando que a sua realização periódica foi "muito importante".
"Permitiu um contacto aberto entre especialistas e decisores políticos, foi uma experiência única não verificada em nenhum outro país europeu e, que saiba, em nenhum outro país no mundo. Facilitou a convergência e a unidade de análise, de troca de pontos de vista e até a convergência na decisão, fundamental durante o estado de emergência e na transição para o estado de calamidade", considerou.
"É o máximo da transparência que se pode imaginar num exercício destes. Portanto, valeu a pena fazer esse exercício" (Marcelo Rebelo de Sousa)O Presidente da República acrescentou que esta iniciativa "mostrou uma transparência total, ao ponto de o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro saberem à entrada das sessões exatamente o mesmo que sabiam os outros participantes, nomeadamente os conselheiros de Estado e os representantes dos vários partidos políticos com assento parlamentar".
Partidos contestam fim das sessões no Infarmed
A decisão de suspender as sessões no Infarmed - que o líder do PSD disse recentemente que começavam a ter "pouca utilidade" - apanhou os partidos de surpresa. À saída da última sessão, PCP, CDS, 'Verdes', Chega e IL manifestaram o seu descontentamento com a decisão do Governo.
O deputado do PCP Jorge Pires destacou a "importância destas reuniões", dizendo temer "que se esteja a considerar esta ser a última reunião exatamente por causa dessa opinião" de Rui Rio, e esclarecendo que o PCP "não tem essa opinião" porque "estas reuniões desde o princípio - e nós tivemos em todas - tiveram uma importância extraordinária".
"O conhecimento científico é fundamental para conduzir politicamente as medidas necessárias ao combate da Covid-19", afirmou o deputado comunista, destacando que o conjunto de investigadores e técnicos "prestaram um grande serviço e deram uma grande ajuda, e por isso é importante retomar estas reuniões".
Pela voz do CDS, o vice-presidente António Carlos Monteiro, também vincou a importância destas reuniões porque permitiram "termos informação em primeira mão e podermos também resolver dúvidas em primeira mão".
"[Estas reuniões] foram fundamentais para construir uma unidade em torno do combate a esta doença. Por isso, não podemos deixar de lamentar [esta decisão] numa altura em que a crise não está resolvida em termos de saúde pública e, depois de numa reunião em que os especialistas contrariaram as teses do primeiro-ministro. (...) Acho importante para se construir uma unidade de consensos politicos que a informação seja fornecida, por isso a existência desta reuniões para o CDS é muito importante. Não há nenhum milagre português, a crise de saúde pública continua", concluiu o 'vice' do CDS.
No mesmo sentido, os 'Verdes', pela voz da dirigente Dulce Arrojado, salientaram a "relevância" destas sessões no Infarmed e defenderam que "deveriam continuar a acontecer para irmos acompanhando de forma sistemática toda as questões técnicas e todos os dados tão importantes que nos são fornecidos".
O deputado do Chega foi das vozes mais críticas ao anunciado fim das reuniões. "É de estranhar que depois das declarações do líder do PSD (...), o Governo tenha decidido terminar com estas reuniões e, aparentemente, com a passividade enorme do Presidente da República. Mostra que temos uma alinhamento estruturado (...) para controlar a informação, a gestão e a divulgação do que se passa. Não foi inocente nada disto que aconteceu. Estas reuniões têm uma importância fundamental se forem isentas, (...) não se pode pedir, por um lado, que decidamos com base em conhecimento científico e por outro lado que acabem com as reuniões onde esse conhecimento é transmitido", contestou André Ventura.
"O que se aconteceu foi uma concertação entre o principal partido da oposição e o partido do Governo, com a passividade do Presidente da República, para pôr fim a estas reuniões", acusou o deputado do Chega.
Pela voz do Iniciativa Liberal (IL), Carla Castro sublinhou "lamentável" que "estas reuniões terminem" porque "cumpriram e cumprem um papel bastante diversificado. A partilha de conhecimento foi fundamental não só para escrutinar a ação, mas também para encontrar alternativas. E este papel não deixou de ser importante neste momento porque a situação não está solucionada". "É, realmente, com bastante pesar que vemos o fim destas reuniões", concluiu.